Seminário de Lexicologia da AGLP

Academia Galega da Língua Portuguesa

O repto dos vocabulários ortográficos

Data: 5 de outubro de 2009

Lugar: Fundação Caixa Galicia. Rua do Vilar, 19, Santiago de Compostela.

Destinado a professores, investigadores e estudantes de língua.

Inscrição prévia através do e-mail secretaria[@]academiagalega.org; através do tel. (+34)667628090; através do fax (+34)981811967

Horário

09h30 Recepção aos participantes
10h00 Ato de Abertura
10h30 Comunicações da manhã
14h30 Jantar
16h00 Comunicações da tarde
19h00 Encerramento do Seminário

 Objetivos

Analisar a situação, perspetivas e problemática da elaboração dos Vocabulários Ortográficos, no contexto da aplicação do Acordo Ortográfico.

Oferecer aos assistentes um panorama atual dos estudos de lexicologia. Apresentar os trabalhos da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da AGLP. Favorecer o intercâmbio de conhecimentos e projetos, criando um clima de colaboração.

 Oradores

Prof. Adriano Moreira, Vice-Presidente da Academia das Ciências de Lisboa e Presidente da Classe de Letras

Prof. Álvaro Iriarte Sanromán, AGLP e Universidade do Minho

Prof. Artur Anselmo, Presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da ACL e Vice-Presidente da Classe de Letras

Prof. Evanildo Bechara, Academia Brasileira de Letras

Prof. Isaac Alonso Estraviz, Vice-Presidente da AGLP

Prof. João Malaca Casteleiro, Academia das Ciências de Lisboa

Prof. José-Martinho Montero Santalha, Presidente da AGLP

Prof.ª Mª Francisca Xavier, Universidade Nova de Lisboa Prof.ª Mª Lourdes Crispim, Universidade Nova de Lisboa

Resumo dos conteúdos

As jornadas começam às 09h30, após a abertura do secretariado e entrega de materiais, com a assinatura do Protocolo de Colaboração entre a AGLP e a Universidade Aberta. Excelentíssimo Sr. Reitor, Professor Doutor Carlos Reis, e o Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, Professor Doutor José-Martinho Montero Santalha, apresentarão a oferta educativa da Universidade Aberta.

Os aspetos fundamentais do documento referem a colaboração na investigaçom, a valorização da língua portuguesa, e a difusão da oferta académica da Universidade Aberta. A este respeito, o presidente da AGLP referiu que esta colaboração vai contribuir a visibilizar a situação do português da Galiza, e facilitar o acesso dos estudantes galegos ao ensino superior, não presencial, na sua língua.

Imediatamente a seguir, às 10h00 terá lugar o Ato de Abertura, com os Professores Martinho Montero da Academia Galega da Língua Portuguesa, Adriano Moreira e Malaca Casteleiro da Academia das Ciências de Lisboa, Evanildo Bechara da Academia Brasileira de Letras e autoridades. Atuará em qualidade de moderador Ângelo Cristóvão.

A primeira sessão começa às 10h30 com a palestra "Léxico da Galiza para os dicionários comuns da língua portuguesa: problemas e possíveis critérios de seleção", ministrada por Montero Santalha. Após esta primeira intervençom, Adriano Moreira falará dos "Temas da implantação e preservação da língua" e Evanildo Bechara analisará os "Passos na implantação do Acordo Ortográfico no Brasil". A seguir, às 12h00, realizará-se um debate entre os oradores e os assistentes que quisserem participar.

Com uma pausa para o café de por meio, começará a segunda sessão, em que Artur Anselmo explicará "História dos Vocabulários da Língua Portuguesa editados em Portugal (1866-1970)". Às 13h30 Álvaro Iriarte Sanromán falará sobre "O Dicionário de Espanhol-Português como ferramenta para a codificação do português da Galiza". A seguir realizará-se um debate e haverá um tempo para o almoço.

A terceira sessão terá como protagonistas aos professores João Malaca Casteleiro, que falará dos "Critérios para a elaboração do Dicionário Ortográfico de Pronúncias", às 16h00; e Isaac Alonso Estraviz, que falará do "Dicionário Eletrónico Estraviz", por volta das 16h30.

A última sessão está marcada para 17h30. Maria Francisca Xavier falará do "Dicionário do Português Medieval - Fontes e elementos lexicais galegos - (I)". Na mesma linha do anterior, às 18h00, Maria de Lourdes Crispim continuará a falar do "Dicionário do Português Medieval - Fontes e elementos lexicais galegos - (II)"

Finalmente, às 19h00 procederáse ao acto de encerramento do Seminário, em que participarão os Professores José-Martinho Montero Santalha (AGLP), Adriano Moreira e Malaca Casteleiro (ACL), Evanildo Bechara (ABL) e autoridades.

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A nossa Língua floresce na Galiza

Concha Rousia 

Concha Rousia

A mim surpreendeu-me ver aquele homem de fato preto, camisa branca e laço de perfeito nó, que até me fez pensar num amigo que hoje não podia estar presente. O homem estava lá perto da entrada de São Domingos de Bonaval, sob uma chuva que não molhava seu incombustível cigarro. Olhei para ele, para a sua elegância que até a chuva, que a mim molhava, nele respeitava. Era uma manhã de pequenas pingadinhas a virem dar ao dia aquela sua prestância de galego. Sorri ao ver que até o tempo queria ‘ser’ connosco.

Ele reparou em que eu o via, e disse-me que estava já para entrar, que saíra apenas para ver a gente chegar, como nas romarias dalgum tempo... Eu aproveitei para lhe dizer que aguardava entendesse o nós termos depositado a coroa de loureiro aos pés de Rosalia; e ele disse-me que ele próprio a teria mudado para esse lugar se a nós tivéssemos deixado noutro.

Entramos, ele foi-se colocar lá à direita da coroa justo detrás do lugar que ia ocupar Martinho, o presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa. E lá, de olhos bem abertos, permaneceu enquanto Martinho pronunciava o seu breve e intenso discurso para mostrar os devidos respeitos aos nossos antepassados; depois vi como fechava o seu imortal olhar quando soou a música de Eduardo Baamonde, Servando Barreiro e José Luís do Pico... 

Acabada a oferenda, e logo dos parabéns a Martinho, toda a gente se foi dirigindo ao Centro Galego de Arte Contemporânea, onde iam começar as intervenções dos oradores que hoje nos honravam com sua presença. Eu busquei-o para me despedir, pensando que iria ficar lá no seu lugar entre os galegos ilustres de Bonaval, quando o vejo encaminhando-se para a saída. Com minha olhada interroguei-o, mesmo sem querer; mas como imaginava eu que ele ia ficar, se viera para estar connosco, e lá onde nós formos ele iria...? Eu entendi isso bem.

Foi então que confessou ter gostado mesmo de como se tinha feito a oferenda, sem essas intensas luzes e câmaras das televisões, com os seus micros e cabos e gente a ordenar em tudo... Na intimidade da penumbra, tudo ficara hoje mais solene; depois pensei que me ia perguntar que como fora para a TVG não ter aparecido, que cada vez que espirra um jogador de bola vão lá sete câmaras a gravar... mas olhou-me e não perguntou, não perguntou porque sabia como eu me ia sentir. E eu agradeci aquele seu silêncio... vi que compreendia que na Galiza terrenal algumas cousas continuavam como noutros tempos, ou pior até...

Caminhamos juntos, embora a gente me visse a mim sozinha, com as minhas roupas negras, apropriadas para o lugar no que estávamos... eu não me podia vestir de nenhuma outra cor, nunca antes participara numa oferenda aos nossos ilustres antepassados... Sentia-me feliz de tão honrosa companhia, mas asinha o perdi de vista, e julguei que ao ver a quantidade de gente teria mudado de ideia, e teria voltado para o panteão. Uma doce saudade se quis pousar em mim mas olhando para o painel de oradores a saudade desapareceu a escape; no seu lugar veio uma leve preocupação polo que hoje se iria dizer e não dizer, tingida pola esperança ao ver um público efervescente, a abrir os exemplares do primeiro Boletim da Academia que lhes fora oferecido ao entrarem.

Sentei-me na primeira bancada, reservada para académicos e académicas e algum convidado que pediu se lhe reservasse um lugar na primeira fila, senti mágoa por não ver o meu interlocutor de antes entre nós. 

As palavras do Ângelo inauguraram a palestra, falou como o sereno anfitrião que ele é; dando as bem-vindas a todas e todos e continuou com a apresentação dos oradores.

O primeiro em falar foi João Craveirinha, um escritor a quem tenho a honra de contar entre os amigos. Com ele chegou a nós a força do abraço, não só de Moçambique, mas sim da África inteira que a nossa fala entende. Foi breve, generoso com o tempo e as palavras, não esqueceu que estava ante um povo colonizado; sabendo ele o que isso é soube se pôr no nosso lugar. Obrigada.

O seguinte na palavra foi o Professor Malaca Casteleiro da Academia de Ciências de Lisboa; amigo a quem todos conhecemos, respeitamos, e sentimos cercano, e se me permitem dizer, nosso; nem precisa dizer muita cousa para todos e todas sentirmos o calor de seu apoio. Portugal hoje estava bem representado. A seguir falou Artur Anselmo, Vice-Presidente da Classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa, que nos ofereceu as, por nós desconhecidas, palavras de Agostinho da Silva, palavras que ele denominou de proféticas para a Galiza e os galegos. Talvez a algumas pessoas lhes pareça que a sua mensagem pode levar-nos é a pastorear sonhos; mas nem que assim fosse nós agradecemos... agradecemos porque temos demasiada gente à nossa volta a querer-nos fazer cair em pesadelos horríveis. As palavras de Agostinho da Silva são testemunha do que foi a Galiza como povo, e quem vai ser, quem ainda a Galiza é... mesmo que muita gente fique adormecida a aguardar por um sonho que os faça acordar, porque é só dos sonhos que se acorda.

Também de Portugal, Carlos Reis, Reitor da Universidade Aberta, a quem alguns de nós tivéramos a fortuna de ouvir falar o passado 7 de Abril na Assembleia da República Portuguesa em defesa do Novo Acordo Ortográfico, e fora também esse acordo o que levara a Delegação Galega a Lisboa... Aquele dia na grande sala da Câmara da Republica eu me sentira mais distante dele, talvez por ser a primeira vez que eu estava lá, e aquilo me impressionava; ou talvez porque Carlos Reis falara fundamentalmente para portugueses; mas hoje em Compostela falava para nós, para os galegos e galegas e falava também para Guerra da Cal, amigo e mestre que sementou nele os sonhos da Galiza galega.

Ângelo, com o seu firme sigilo, deu a seguir a palavra a Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras e grande amigo da Galiza. Pouco precisa ele dizer para comunicar que fica e ficará do nosso lado. Depois falou para defender o Novo Acordo Ortográfico das críticas ultrajantes que se levam vertido... Ele, com o seu tolerante talante foi desmontando as fachadas daquelas aparentes críticas, mostrando logo que todas careciam de fundamento. E do Brasil passamos à Galiza, e atrás do professor Bechara falou Xoán Antón Perez-Lema, secretário Geral de Relações Institucionais da Vice-presidência da Junta da Galiza. Difícil encontrar palavras que transmitam a força que senti sair de sua mensagem...

Por primeira vez em muito tempo, talvez por primeira vez desde que temos governo na Galiza, sentimos, acho que maioritariamente, que tínhamos ante nós o nosso representante... que se importava por nós, se importava pola Galiza a que não podemos deixar sumir na Ibéria Hispanófona. Perez-Lema falou duma Galiza que encontrará o seu lugar na Lusofonia, onde poder ser o pais que ela é. Eu olhei para trás por um instante, queria talvez comprovar que nos rostos das demais pessoas havia a mesma luz que eu sentia na minha... E qual não seria a minha surpresa ao ver de novo ao amigo que eu julgara ido para o seu lugar de pedra em Bonaval. Lá estava de pé entre o público, com sua elegância e seu cigarro, ainda bem que ninguém parecia ver o fume... Foi ai que reparei que não estava sozinho, como ele havia mais gente que eu não tive tempo de reconhecer, não podia ficar a olhar para trás; e não foi até que falou Martinho que eu pude ver quem eram os outros que estavam com ele...

Martinho, o primeiro presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, procedeu com seu discurso... os agradecimentos, os propósitos, e o percurso histórico... foi citando aos nossos predecessores que muito deram pola nossa Terra, alguns mesmo a vida... e foi lendo palavras deles, todas tentaram acercar a Galiza à Lusofonia, ao lugar de seu; com cada geração nos tínhamos acercado mais um bocadinho, embora a situação dentro da nossa Terra não tenha melhorado muito. E aqui estava mais um passo, a AGLP é mais um passo, definitivo sim, mas um que precisou de todos os anteriores... precisou de Rosalia, de Murguia, de Risco, de Otero Pedrayo, de Pondal, de Castelao, de Carvalho Calero, de Marinhas, de Lapa, de Guerra da Cal... Martinho foi lendo citas de cada um deles e eu, olhando de esguelho, vi como, à vez que Martinho citava as suas palavras eles as falavam, num acto de reafirmação... depois começaram a debater entre eles sobre o que teria sido se tivessem podido seguir adiante com a Primeira Academia concebida... a que presidiria Murguia, e levaria a Galiza à Lusofonia em pouco tempo... Porque eles viam que desde aqueles tempos se leva andado muito por caminhos errados...

Mas o de hoje era um passo no que Galiza se aproximava de si própria; um passo na direção da Galiza; um passo na direção contrária da “Galicia”, porque dizer “Galicia” é uma forma de não dizer eu sou, e hoje nós queremos é ser, e somos Galiza. O discurso de Martinho foi, de todos os pontos de vista, impecável; todos e todas estávamos com ele, e eu acho que por um momento se parou o tempo... Martinho calou e falaram as palmas prolongadamente... A sala inteira pôs-se em pé.

Atrás das intervenções da manhã veio uma pausa para o café, os saúdos aos presentes, os apertos de mãos, as trocas de endereços electrónicos, os cartões...

Depois veio o silêncio, um silêncio no que Isabel Rei desenhou com as cordas da sua amiga, a guitarra, a beleza do nosso sonho... Deu-la-deu, a suite para guitarra que Rudesindo Soutelo criou e dedicou à AGLP. As imagens saltavam das cordas, que magicamente tangia a Isabel, para as nossas mentes... Primeiro o desassossego do assédio à fortaleza seguido da fome que impinge a rendição, e logo a oferta de pães ao inimigo, que levou a desistência do cerco, para finalmente nos elevar com o triunfo incruento da estratégia.

Todos nos deixamos levar pola música, sentindo a força do abraço da união dos nossos hinos. Rudesindo, Isabel, e a Guitarra, ocupavam agora o centro do cenário para serem eles a receber a retribuição do público por sua arte... Finalmente Isabel nos presenteou com sua interpretação de três obras inéditas de Marcial Valladares. Antes de rematar a manhã cantamos, acompanhados pola gaita e a percussão, o nosso hino; brasileiros, portugueses e africanos, acompanhavam lendo as palavras de Pondal nas páginas do Boletim da AGLP. Só eram as duas e meia e o dia já estava ganho... mas ainda havia mais...

O jantar foi no Dezasseis, um número incerto, entre sessenta e setenta pessoas, foi ocupando o andar de acima que o restaurante tinha reservado para nós. Todo disposto aguardou a nossa ordem para começar, tudo a seu tempo... e a frase no ar “pedi o que desejeis”. Começando pola empanada da casa, os pimentos de Padrão, o revolto de cogumelos, o polvo à grelha... o vinho Ribeiro e Mencia a fartura, depois o bacalhau e a carne, a doce sobremesa, o licor de cafe, de ervas... e a conversa; todo envolto na conversa... algumas ausências involuntárias e muito sentidas, alguma outra voluntária e insuficientemente notável como para ser sentida, não nesse dia. O Dezasseis hoje convertera-se na nossa casa, até me fez lembrar daqueles casamentos que se faziam nas aldeias, onde todos os convidados, mesmo os que não eram conhecidos, e vinham de outras partes, eram queridos...

O café veio às pressas porque as portas do Reitorado iam ser abertas para nós. Elias Torres ilustrou-nos sobre a história e os tesouros de Fonseca, que passa para mim a ser real, e deixa de ser para sempre uma canção da tuna universitária. O final da visita deixou-nos nos cómodos e moles assentos da sala nobre do reitorado, onde os sonhos irremediavelmente, dada hora e o cansaço, se trançaram com as vozes dos poetas: Pedro Casteleiro, Irene Veiga, Celso Alvarez Cáccamo, Mário Herrero, José Manuel Barbosa, Artur Alonso Novelhe, João de Bonaval, Alberte Corral, e eu, Concha Rousia. A poesia nos fez, mais uma vez, lembrar que nós vimos de longe, e estamos cansados, sim estamos algo cansados, mas rendidos não estamos. Depois de ler as palavras dos nossos antepassados poetas, lemos cada um de nós um poema de nossa autoria; e lemos também um de Rui Mendes e outro de Belém de Andrade, que não podendo estar presentes pediram, se possível, ser lidos.

Agora tínhamos uma hora livre; alguns foram até ao hotel, outros até à Gentalha do Pichel. Eu fui a casa buscar a minha filha. Ângelo foi buscar sua família para a ceia na que íamos homenagear três queridos professores; Artur Anselmo, Malaca Casteleiro e Evanildo Bechara.

Mas antes da ceia vieram as canções do Orfeão “Terra a nossa”, eu cheguei com Nerea quando soava a Negra Sombra, ouvimos desde o corredor lateral, aguardando as palmas para entrar. Estava ateste, apenas uns assentos livres nas últimas bancadas. Logo veio mais música galega e portuguesa, uma peça de João Trillo, e peças brasileiras, eu adorei como se ouviu o Samba, e logo mais música galega... Da praça de Maçarelos, onde se encontra a Igreja da Universidade, que se não dedica ao culto e sim à cultura, fomos para a Praça das Penas onde se encontra o restaurante, “Garum”.

A ceia foi uma delikatessen, o restaurante abrira só para nós, como o andar do Dezasseis na hora do jantar... Durante a sobremesa entregamos umas prendas de Sargadelos aos nossos homenageados: Martin Codax, Mendinho, e o João de Cangas... os nossos trovadores... O convívio foi entranhável, galegos, brasileiros, africanos e portugueses misturados... A mim, hoje, ao lembrar fica-me uma frase viva na memória, uma que o Mário repetira, pronunciada por Wellington ao ver como eram os galegos: “Espanhóis, dedicai-vos a imitar os inimitáveis galegos” Na emoção com que o Mário a repetira havia orgulho, talvez decepção e algo de raiva, mas também esperança. Talvez porque, tal como ele disse, mesmo sendo na atualidade só a sombra do que fomos, ainda continuamos a ser inimitáveis, e capazes de fazer cousas incríveis...

A noite levou-nos, lá para as duas da madrugada, de volta às nossas casas e hotéis. Que curta se fez!

De manhã muitos foram-se a caminho de Lisboa e alguns de aí ao Rio de Janeiro. Aqui ficamos os galegos e o amigo Craveirinha, ate à quarta-feira para percorrer Compostela e se encher do ‘ser galego’. Essa mesma tarde passeou com alguns de nós, e minha filha Nerea teve ocasião de aprender da vida com metáforas africanas, ela deixou-se ver como um elefantinho, a fugir dos leões, que aqui na cidade eram os carros...

Na quinta de manhã foi-se João Craveirinha, o último de nossos convidados; eu acompanhei-o a Chaves. Quanto lá chegamos ele ouviu falar a gente e disse: “São galegos, eles são galegos, eles falam como tu...” E é verdade, a Lusofonia é ampla e há muitos sotaques diferentes; ora, as gentes desta comarca falam como eu; eu já sabia isso, ou devia tê-lo sabido... mas neste novo contexto da Academia, e sendo observado por um Africano de Moçambique que já tem morado no Estado Espanhol, cobrava um novo sentido.

Agora, logo de toda a minha vida, alguém vinha dar por isso, porque eu, e quem diz eu diz qualquer pessoa desta Raia Seca, falamos igual, apenas muda um nada o sotaque polas influências centralizadoras dos dous Estados aos que uns e outros pertencemos. À minha cabeça veio a primeira vez que alguém me tinha dito que aquilo que eu falava, e que chamávamos galego, "era um idioma", também para isso houve uma primeira vez. E lembrei a minha tia Cândida a dizer... “e que seica que agora o Galego já é idioma” Eu pensei o mesmo que penso agora... é que antes por acaso, não o era?

Compreendi, polas teorias nas que eu acredito, que somos não só o que somos, mas sim o que nos dizemos que somos nas nossas narrativas: hoje nestas nossas narrativas dizemos que somos Lusofonia... com as nossas peculiaridades, com a nossa história, até com os nossos medos e o nosso orgulho, somos Lusofonia.

Fonte original:

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Vídeo promocional da Sessão Inaugural da AGLP

DVD com a gravação na íntegra será lançado proximamente

Ângelo Cristóvão - A Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) disponibiliza na internet um vídeo-resumo da sessão inaugural, que teve lugar em 6 de outubro de 2008, em Santiago de Compostela. Também pode ver-se aqui, no pglíngua.

Neste evento, com o apoio do Governo Autónomo da Galiza (Vice-Presidência e Conselharia de Cultura), a Universidade de Santiago e a Fundação da Caixa Galiza, participaram, entre outras personalidades relevantes, os professores Evanildo Bechara, em representação da Academia Brasileira de Letras; Artur Anselmo, em nome da Academia das Ciências de Lisboa; Carlos Reis, Reitor da Universidade Aberta; João Malaca Casteleiro, da ACL; o escritor moçambicano João Craveirinha; X. Antón Pérez-Lema, Secretário Geral de Relações Institucionais do Governo Galego, e José-Martinho Montero Santalha, presidente da AGLP. Correspondeu-me a responsabilidade de moderar a sessão, como presidente da Associação Cultural Pró AGLP.

A gravação inteira da sessão inaugural, em DVD com duração de 3 horas, será enviada a diferentes instituições, universidades e investigadores de toda a lusofonia. Proximamente, a AGAL receberá uma cópia. Para mais informação é só escrever para pro[@]aglp.net.

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AGLP já caminha... Crónica da Sessão Inaugural

Membros da Academia Galega da Língua Portuguesa

Membros da Academia Galega da Língua Portuguesa

António Carvalho – As previsões meteorológicas prediziam chuva e mau tempo, mas a jornada em que a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) abria publicamente as suas atividades decorreu com total normalidade e uma ampla participação, embora o dia de trabalho.

Oferta floral e conferência marcante

Um bocadinho mais tarde do agendado, pelas 10h00, o Panteão de Galegos Ilustres, em Sam Domingos de Bonaval (Compostela), acolhia um singelo mas intenso ato em que o presidente da AGLP lia um emotivo discurso perante a tumba de Rosália de Castro. Nessa altura, mais de 50 pessoas arroupavam os primeiros andares da nova Academia.

O prato principal do dia realizava-se a seguir na Sala de Conferências do Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC). Lá, uma mesa em que se encontravam brasileiros, galegos, portugueses e moçambicanos, falou para um auditório que, aos poucos minutos de começar, estava composto por mais de cem pessoas.

Do PM (português moçambicano) do Craveirinha, à leitura dos académicos e académicas fundadoras, bem como à apresentação pública do Boletim da AGLP, realizado no final por José-Martinho Montero Santalha, as pessoas que lá estávamos tivemos oportunidade de ouvir um elenco de sotaques galego-luso-africano-brasileiros, com algumas opiniões realmente marcantes a respeito da Galiza, o galego e a Lusofonia.

As palavras de Malaca Casteleiro bateram o ponto na reintegração do galego; os pensamentos do Agostinho da Silva foram resgatados do esquecimento pelo professor Artur Anselmo; Carlos Reis deixou-nos um discurso cristalino e convincente, salientando a lembrança do professor Ernesto Guerra da Cal; a defesa do Acordo Ortográfico para o português foi proferida pelo professor Evanildo Bechara; e o representante da Junta, Pérez-Lema, surpreendeu com um discurso nada ambíguo em que afirmou que o Governo da Galiza tem muito claro as vantagens da Lusofonia para a Galiza e a sua aposta -cultural e economicamente-, vai nesse caminho, embora a questão normativa não fosse nomeada explicitamente.

Abertura das atividades da AGLP

José-Martinho Montero Santalha discursou duplamente, para agradecder os apoios, manifestar as intenções da nova Academia, fazer um percurso histórico que legitima claramente a criação da nova instituição e, finalmente, dar leitura aos nomes dos académicos e académicas fundadoras, além de apresentar pubicamente o primeiro número do Boletim da AGLP.

Após isso, o auditório delitou com a sublime atuação de Isabel Rei à guitarra, interprentando a composição de Rudesindo Soutelo, Deu-la-deu, criada para a ocasião. Depois foi tempo de confraternização, no jantar à galega a que assistiram 70 pessoas.

É de destacar, entre o pessoal que assistiu a esta sessão matinal, a presença de Carlos Aymerich, porta-voz parlamentar do BNG; bem como Camilo Nogueira, membro de honra da AGAL, ex-eurodeputado que utilizou o galego – ou português da Galiza –, nas suas intervenções na Eurocâmara; Samuel Rego, responsável pelo Centro do Instituto Camões em Vigo; Carlos Quiroga e Maria Isabel Morám Cabanas, da USC; e ainda representantes das universidades brasileiras de São Paulo e McKenzie.

O presidente da AGAL, Alexandre Banhos; a porta-voz do MDL, Teresa Carro; o secretário do Facho, José Alberte Corral, representavam ainda alguma das associações e colectivos que marcaram presença nesta Sessão Inaugural. Igualmente, estavam representadas a Associação de Amizade Galiza-Portugal e a própria Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa.

Sessão de tarde complementar

A tarde foi tempo para uma visita pela Universidade de Santiago de Compostela, com o vice-reitor Elias Torres como anfitrião. No Salão da Reitoria da USC realizou-se uma recitação de poesia, com a participação de Celso Álvarez Cáccamo, Mário Herrero, Pedro Casteleiro, Concha Rousia, José Manuel Barbosa, Artur Alonso Novelhe e José Alberte Corral Iglésias.

O magnífico concerto do Orfeão Terra a Nossa e a ceia-homenagem aos académicos Evanildo Bechara, Artur Anselmo e Malaca Casteleiro (que se prolongou até às 02h00 da madrugada), encerraram uma jornada histórica, que teve uma importante repercussão na comunicação social (digital e em papel), conforme pudemos verificar... Parabéns e críticas não faltaram... Ou seja, a AGLP gera já debate em todos os âmbitos.

Da Academia Galega da Língua Portuguesa, Ângelo Cristóvão, o seu secretário, informou que logo será disponibilizado um DVD em que serão distribuídas as gravações na íntegra das diversas atividades. Mas, entretanto esse DVD não vier a ser lançado, disponibilizamos para já um vídeo-resumo do evento, uma pequena foto-reportagem, o áudio na íntegra da sessão matinal e os textos das três intervenções do presidente da AGLP José-Martinho Montero Santalha.

Vídeo-resumo da Sessão Inaugural da AGLP

DVD com a gravação na íntegra será lançado proximamente

Áudio na íntegra da Sessão Inaugural da AGLP

  1. Discurso de José-Martinho Montero Santalha na Oferenda Floral no Panteão de Galegos Ilustres [02 min 19 seg | Descarregar PDF]
  2. Apresentação a cargo de Ângelo Cristóvão [6 min 10 seg]
  3. Intervenção de João Craveirinha [6 min 10 seg]
  4. Intervenção de Malaca Casteleiro [7 min 15 seg]
  5. Intervenção de Artur Anselmo [12 min 10 seg]
  6. Intervenção de Carlos Reis [15 min 45 seg]
  7. Intervenção de Evanildo Bechara [15 min 15 seg]
  8. Intervenção Xosé Antón Pérez Lema [10 min 38 seg]
  9. Saúdo de José Martinho Montero Santalha [09 min 40 seg | Descarregar PDF]
  10. Discurso Inaugural da AGLP a cargo de José-Martinho Montero Santalha [22 min 15 seg | Descarregar PDF]

  Descarregar MP3 [50 MB | 1 h 42 min]

 Foto-reportagem da Sessão Inaugural da AGLP

Relação de Académicas/os fundadoras/es da AGLP (por ordem alfabética)

(foram tidos em conta, à par dos critérios Académicos e Literários, os Cívicos)

  • Isaac Alonso Estraviz (vice-presidente)
  • Artur Alonso Novelhe
  • José Manuel Barbosa Álvarez
  • Ângelo Brea Hernández
  • Ângelo Cristóvão Angueira (secretário)
  • Carlos Durão Rodrigues (Londres)
  • João Evans Pim
  • António Gil Hernández
  • Luís Gonçales Blasco
  • Álvaro Iriarte Sanromán (Braga)
  • Vítor Manuel Lourenço Peres
  • Higino Martins Esteves (Buenos Aires)
  • José Martinho Montero Santalha (presidente)
  • Mário Alonso Nozeda Ruitinha
  • Francisco Paradelo Rodrigues
  • José Paz Rodrigues
  • Isabel Rei Sanmartim (tesoureira)
  • Ramom Reimunde Norenha
  • Valentim Rodrigues Fagim
  • José Ramão Rodrigues Fernandes
  • Concha Rodrigues Peres (vice-secretária)
  • Rudesindo Soutelo
  • Joám Trillo Peres (arquivista-bibliotecário)
  • Fernando Vázquez Corredoira
  • Xavier Vasques Freire
  • Ernesto Vázquez Souza
  • Crisanto Veiguela Martins
  • Álvaro Jaime Vidal Bouzón
  • Xavier Vilhar Trilho

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Breve percurso do projeto

Um projeto históricoNos últimos anos vem-se discutindo nos ambientes universitários galegos a necessidade de constituir uma nova academia da língua que responda aos critérios históricos e científicos por que se regem todas as línguas europeias, coerente com a ideia de unidade do galego-português que representaram vultos como Guerra da Cal, Carvalho Calero, Rodrigues Lapa ou Lindley Cintra, que em 1984 incluíra os dialetos galegos entre os do português europeu, na Gramática que editou junto de Celso Cunha.

Com este intuito, a 1 de dezembro de 2007 foi criada em Santiago de Compostela a Associação Cultural Pró Academia Galega da Língua Portuguesa. Inscrita no Registo de Associações, esta entidade, que está integrada por docentes, advogados, editores, empresários e escritores, tem por finalidade principal a constituição da citada Academia. O projeto tem o apoio das principais associações lusófonas da Galiza.

A marca «Academia Galega da Língua Portuguesa» foi registada nos territórios da República Portuguesa e o Reino da Espanha, pois uma das finalidades desta entidade é a publicação de coleções de literatura clássica, linguística e sociolinguística, além de teses de doutoramento.

O projeto da AGLP recebeu o apoio dos académicos Malaca Casteleiro (da ACL) e Evanildo Bechara (da ABL) numas conferências organizadas em 8 de Outubro na Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela.

Recentemente, participamos na Conferência Internacional / Audição Parlamentar do dia 7 de abril, na Assembleia da República Portuguesa, junto da delegação das Entidades Lusófonas Galegas. O presidente da Associação, Ângelo Cristóvão, apresentou a posição favorável ao processo de unidade da escrita, e explicou o papel que pretendemos dar à nossa academia. A terça-feira 8 de abril fomos recebidos em Lisboa pelo Doutor Adriano Moreira, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, na sede dessa instituição.

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Apresentação pública da Academia Galega da Língua Portuguesa

Academia Galega da Língua PortuguesaA Academia Galega da Língua Portuguesa, constituída em 20 de setembro de 2008, e presidida pelo Professor Doutor José-Martinho Montero Santalha, realizará a Sessão Inaugural no Centro Galego de Arte Contemporânea, o dia 6 de outubro, em Santiago de Compostela.

Neste evento, além duma ampla participação de personalidades da vida cultural e universitária da Galiza, serão recebidos representantes oficiais da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras, autoridades políticas e responsáveis universitários da Galiza e Portugal. Terá lugar, também, a apresentação do primeiro volume do Boletim da AGLP e a estreia de obras musicais compostas para o evento.

A AGLP é uma entidade privada que se define como «instituição científica e cultural ao serviço do Povo galego», pretende «Promover o estudo da Língua da Galiza para que o processo da sua normalização e naturalização seja congruente com os usos que vigoram no conjunto da Lusofonia».

A proposta de criação da Academia foi defendida pelo Professor Montero Santalha num artigo publicado em 1994 na revista Temas de O Ensino sob o título «Dificuldades do presente e tarefas para o futuro» e, mais recentemente, numa intervenção em Bragança, em outubro de 2006, na realização do V Colóquio da Lusofonia. Posteriormente, em 7 de abril de 2008, foi confirmada pelo presidente da Associação Cultural Pró AGLP durante a sua intervenção na Assembleia da República de Portugal, na Conferência Internacional de Lisboa, em 7 de abril de 2008.

José-Martinho Montero Santalha nasceu em Cerdido (Galiza) em 1941. Frequentou o Seminário de Mondonhedo e, em Itália, realizou estudos de Teologia e Filosofia (Universidade Gregoriana de Roma). Doutorou-se em Filologia com uma tese sobre as rimas da poesia trovadoresca (em 2000, Universidade da Corunha).

Muito cedo aderiu aos movimentos a prol da reintegração linguística, convertendo-se num dos principais promotores. Durante a sua estadia em Roma (1965-1974) participou no grupo “Os Irmandinhos”, preocupados pela recuperação do galego na liturgia e na sociedade em geral. Nessa altura foi um dos assinantes do “Manifesto para a supervivência da cultura galega”, publicado na revista Seara Nova (dirigida por Rodrigues Lapa) em setembro de 1974. A começos da década de 80 participou na fundação de diversas associações culturais galegas, como as Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, Associaçom Galega da Língua e Associação de Amizade Galiza-Portugal.

Tem publicado numerosos estudos em diversas revistas e congressos internacionais, sendo um dos autores mais prolíficos e respeitados da Galiza lusófona. Actualmente é catedrático de Língua e Literatura galega na Universidade de Vigo (Campus de Ponte Vedra).

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Roteiro da Sessão Inaugural da AGLP

Os primeiros passos da Academia GalegaUm Amplo e Simbólico Programa de Atividades

O programa da Sessão Inaugural, em que será dada a conhecer a lista dos académicos e académicas fundadoras, começará às 9h30 do dia 6 de outubro. Nesse momento, os professores José Luís do Pico, Eduardo Baamonde e Servando Barreiro irão acompanhar com instrumentos de música tradicional a oferenda floral aos Galegos Ilustres, em São Domingos de Bonaval. Convidados(as) e académicos(as) irão depositar uma coroa de loureiro ao pé do túmulo de Rosalia de Castro. O presidente da AGLP, José-Martinho Montero Santalha, falará em nome dos presentes. Os músicos irão interpretar o Hino do Batalhão Literário, terceiro da história da Galiza, e outras peças musicais de marcado simbolismo cívico.

Pelas 10h30 dará início o ato oficial de abertura das atividades da Academia Galega, na Sala de Conferências do Centro Galego de Arte Contemporânea, que contará com as intervenções do escritor moçambicano João Craveirinha; o Vice-Presidente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, Professor Doutor Artur Anselmo, em representação dessa instituição; o Professor Doutor Malaca Casteleiro, também da ACL; o Professor Doutor Evanildo Bechara, representando a Academia Brasileira de Letras; o Ex.mo Sr. Reitor da Universidade Aberta, Carlos Reis, o Vice-reitor da Universidade de Santiago de Compostela e Presidente da Associação Internacional de Lusitanistas, Professor Doutor Elias Torres, o Secretário Geral de Relações Institucionais da Junta da Galiza, Xoán Antón Pérez-Lema; o presidente da Academia Galega, José-Martinho Montero Santalha, catedrático da Universidade de Vigo, e o Presidente da Ass. Cultural Pró AGLP, Ângelo Cristóvão.

Às 13 horas o presidente da AGLP dará a conhecer a lista dos académicos e académicas fundadoras, e apresentará o primeiro número do Boletim. Esta publicação inclui textos de Montero Santalha, Carlos Durão, Ernesto Vázquez Souza, António Gil (diretor), Maria do Carmo Henríquez, Ângelo Brea, Bárbara Kristensen, Xavier Vilhar Trilho, Álvaro J. Vidal, João Evans e Rudesindo Soutelo. Contém um apartado institucional e recensões. Especialmente salientável é a inclusão do texto e partitura do Hino da Galiza, e o primeiro andamento da suite para guitarra Deu-la-deu, composta por Rudesindo Soutelo em honra da AGLP.

Isabel Rei, professora do Conservatório Oficial de Música da Corunha, iniciará a sua interpretação com a suite para guitarra Deu-la-deu, do compositor Rudesindo Soutelo. Esta peça será seguida de várias composições para guitarra da família de Marcial Valladares, que serão assim resgatadas. É, pois, uma recuperação do património musical culto galego do século XIX. As partituras da família Valladares serão publicadas proximamente, com anotações da própria Isabel Rei e José Luís do Pico.

Os atos da manhã finalizarão com a interpretação do Hino da Galiza, na gaita do professor Eduardo Baamonde Dúbi. O poema de Eduardo Pondal e a partitura do Hino foram incluídos no Boletim.

Às 17 horas terá lugar a recepção oficial na Reitoria da Universidade de Santiago, oferecida pelo Vice-reitor Elias Torres. Seguidamente terá lugar um recital de poesia (Salão Nobre da Reitoria) em que oito conhecidos poetas galegos lerão textos de diversas etapas da história da língua, dos cancioneiros medievais à atualidade.

O recital do Orfeão Terra a Nossa, que começará às 20h30, terá lugar na Igreja da Universidade, como colaboração da Fundación Caixa Galicia, que adere assim a este evento. O programa inclui obras galegas, portuguesas e brasileiras, com especial destaque para uma obra do compositor e diretor de orquestra Joám Trilho, arquiveiro-bibliotecário da Academia Galega da Língua Portuguesa.

Programa da Sessão Inaugural

Centro Galego de Arte Contemporânea
Santiago de Compostela (Galiza), 6 de Outubro de 2008

9h30 Oferenda floral no Panteão de Galegos Ilustres (Igreja de São Domingos de Bonaval)

Interpretação do Hino do Batalhão Literário, e outras peças musicais, por Eduardo Baamonde, Servando Barreiro e José Luís do Pico.

10h30 Mesa de Oradores. Sala de Conferências do CGAC

Moderador: Ângelo Cristóvão, Presidente da Ass. Cultural Pró AGLP
Doutor João Craveirinha, escritor moçambicano
Prof. Doutor Malaca Casteleiro, Academia das Ciências de Lisboa
Prof. Doutor Artur Anselmo, Academia das Ciências de Lisboa
Prof. Doutor Carlos Reis, Reitor da Universidade Aberta (Portugal)
Prof. Doutor Evanildo Bechara, Academia Brasileira de Letras
Ex.mo Sr. Xoán Antón Pérez-Lema, Secretário de Relações Institucionais, Xunta da Galiza
Ex.mo Sr. Elias Torres, Vice-Reitor da Universidade de Santiago de Compostela
Prof. Doutor José-Martinho Montero Santalha, Presidente da AGLP

12h30 Pausa para café

13h00 Intervenção do Presidente da AGLP

Leitura dos nomes dos académicos e académicas.

Apresentação do primeiro número do Boletim da AGLP e inauguração das atividades da Academia.

13h30 Programa musical

A professora Isabel Rei interpretará:

  • Deu-la-deu, estreia absoluta da suite para guitarra composta por Rudesindo Soutelo em honra da Academia Galega da Língua Portuguesa
  • Obras para guitarra do espólio do escritor e compositor Marcial Valladares

O professor Eduardo Baamonde, Dubi, interpretará:

  • Hino da Galiza, em gaita.

(Versão para canto e piano publicada no Boletim nº 1 da AGLP.)

14h30 Jantar para os convidados no Restaurante O Dezasseis

17h00 Recepção aos académicos na Reitoria da Universidade de Santiago

Recepção a cargo do Vice-Reitor da Cultura, Prof. Doutor Elias Torres Feijó.

18h00  Sala Nobre da Reitoria: Recital de poesia

A cargo do Clube dos Poetas Vivos.

20h30 Igreja da Universidade de Compostela

Atuação do Orfeão Terra a Nosa, com repertório de música galega, portuguesa e brasileira, e a interpretação de uma obra do professor, compositor e diretor de orquestra, Joám Trillo.

22h00 Ceia de homenagem

Dedicada aos académicos Artur Anselmo, Evanildo Bechara e Malaca Casteleiro.

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Comissão Promotora da Academia Galega da Língua Portuguesa organiza conferências

João Malaca e Evanildo Bechara
Dia 8 de Outubro estarão em Compostela
os Professores Malaca Casteleiro e Evanildo Bechara

Angelo Cristóvão - A Comissão Promotora da Academia Galega da Língua Portuguesa organiza conferências em Santiago de Compostela, em que intervirão os professores Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, e Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa. Com a apresentação dos catedráticos galegos Martinho Montero Santalha, José Luís Rodrigues e Maria do Carmo Henriques, terão lugar a segunda-feira 8 de Outubro, na Faculdade de Filologia, polas 12 horas.

Prof. Evanildo Bechara

Bechara falará sobre "A Língua Portuguesa na visão dos fundadores da ABL: unidade e diversidade". Dentre suas teses universitárias contam-se títulos da maior relevância, como As fases históricas da Língua Portuguesa: Tentativa de proposta de Nova Periodização (1985).

Autor de duas dezenas de livros, entre os quais a Moderna gramática da Língua Portuguesa, amplamente utilizada em escolas e meios académicos, é director da equipe de estudantes de Letras da PUC-RJ que, em 1972, levantou o corpus lexical do Vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa, sob a direção geral de Antônio Houaiss.

Prof. Malaca Casteleiro

A conferência de Casteleiro leva por título "Contribuição do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e do Dicionário Houaiss para a unidade, na diversidade, da Língua Portuguesa". O Professor Malaca Casteleiro é ou foi responsável por Projectos de Investigação de grande importância, de entre os quais se salientam o de Português Fundamental; Estruturas Lexo-Gramaticais do Português Contemporâneo e o Dicionário electrónico do Português Contemporâneo.

Ainda no âmbito dos projectos de maior impacto e das publicações que lhe estão associadas deve recordar-se a obra que, ansiosamente aguardada, foi publicada em 2000: o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, conhecido como o "Dicionário da Academia", e ainda o "Dicionário Escolar da Língua Portuguesa".

Encruzilhada na Galiza e acordo ortográfico

Segundo os organizadores - de que o professor Martinho Montero é porta-voz - o evento responde ao desejo da Comissão Promotora da AGLP de oferecer ao público galego um testemunho directo de dous vultos da língua portuguesa, numa altura em que o português da Galiza se encontra numa encruzilhada e está em jogo a aplicação do Acordo Ortográfico.

 Cartaz Conferências

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Fonte original:

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Lançamento do sítio web e vídeo das conferências

Pró-AGLPÂngelo Cristóvão (*) - A Associação Cultural Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, criada o 1º de Dezembro de 2007, disponibiliza o vídeo mais a transcrição das conferências de 8 de Outubro, protagonizadas polos académicos Evanildo Bechara, da ABL, e Malaca Casteleiro, da ACL. Estes conteúdos, e outros que iremos produzindo, estão acessíveis neste novo sítio web.

Julgamos de grande interesse a difusão destes textos, verdadeiro exemplo da ideia que os promotores temos da Academia como motor de integração da Galiza na lusofonia, valorização da língua e divulgação cultural.

Naturalmente, estamos acostumados a ver no nosso contexto outros modelos académicos, em geral, como entidades com escassa margem de operação, subordinadas às políticas dos estados, o que se traduz num funcionamento lento, redução de eficácia e dificuldades no relacionamento com o entorno cultural, de que deveria ser um reflexo.

Consideramos que, no nosso caso, outro modelo é possível e necessário. Pretendemos uma instituição nacional galega criada por iniciativa da sociedade civil, independente dos organismos do estado. Uma AGLP presidida por princípios de responsabilidade e rigor no trabalho, integrada por aquelas pessoas que mais têm apoiado a lusofonia galega, através de diversas formas como a docência, a investigação, a criação literária ou o ativismo cultural. Uma entidade que recupere e ponha em valor o nosso património linguístico e literário, ora maltratado, ora esquecido, ora deturpado.

Os leitores podem comprovar como os académicos Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, e Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa, já manifestaram o seu apoio à criação da nova Academia, que pretendemos constituir em 2008. Outras entidades darão a sua aprovação e começarão, logo que possível, o intercâmbio de publicações.

Como presidente da Associação Cultural Pró Academia Galega da Língua Portuguesa e em nome da Junta Diretiva, desejo manifestar o nosso compromisso no projeto e solicitar a colaboração dos leitores em qualquer das formas possíveis.

Ver vídeo das conferências

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(*) Presidente da Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa.

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Transcrição do debate nas Conferências de 8 de Outubro

 Público assistente às Conferências
Debate Conferências de Evanildo Bechara e Malaca Casteleiro
Fac. Filologia, Univ. Santiago, 8 de Outubro de 2008, 12 h.

José Luís Rodrigues: Bem, a mim foi-me atribuído o papel de moderador assim no último momento e em consequência não está previsto que eu realize perguntas, mas suponho que aqui o público, enquanto não aparecer o Ângelo Cristóvão, poderá fazer algumas perguntas até que o organizador nos diga a que hora terminamos. Eu lembro que são horas já bastante avançadas e especialmente sei que os hábitos portugueses, no sentido das refeições, não são como os de aqui, não? Então fazemos as perguntas até que nos digam o que fazemos. O professor Antonio Gil tem a palavra.

António Gil: Eu rogaria que o moderador perguntasse primeiro.

José Luís Rodrigues: Eu cedo primeiramente aos assistentes a este acto, eu dou-lhes a palavra primeiramente, se não houver ninguém então pergunto algo.

Pergunta 1 (Xavier Vilhar Trilho): Eu perguntaria aos professores como vêem desde a sua perspetiva a falta da unidade ortográfica real das duas variantes principais do português, português de Portugal e o português do Brasil, tendo em conta que já há um acordo ortográfico.

Evanildo Bechara: O Professor Malaca Casteleiro fez parte da Comissão, de modo que eu acho que a pergunta pode ser contestada por ele.

Responde Malaca Casteleiro: Muito obrigado ao Professor Evanildo Bechara. Bom, realmente a questão ortográfica é uma longa guerra de cem anos, não é? Foi desencadeada em 1911. Foi uma declaração de guerra ortográfica, uma declaração, subjazente, indireta. Propriamente, porque Portugal nessa altura resolveu levar por diante uma grande reforma ortográfica sem ter procurado o consenso do Brasil Ora, determinar uma ortografia é um ato de soberania de um país sobre a língua, é um ato político e, portanto, não devia nunca ter sido tomada essa decisão sem o outro grande país de língua portuguesa se ter pronunciado sobre essa mesma reforma. E aí começou o grande erro do lado português. É verdade que no Brasil tinha havido já em 1907 também alguma tentativa de reforma ortográfica. De qualquer modo não foi por diante, não foi oficializada. Ainda que concordante dos dois lados do Atlântico, não podia nunca ser levada por um país avante sem realmente o outro participar nessa decisão política, nesse ato de soberania como é determinar uma nova ortografia para a língua comum.

Portanto esse é o grande problema e depois não houve nunca realmente entendimento. Nós sabemos que em 1945 -como foi aqui lembrada, a convenção ortográfica de 1945- os negociadores portugueses, coordenados pelo professor Rebelo Gonçalves, um classicista que falava o Latim e o Grego, para quem eram as línguas ainda vivas e fundamentais, conseguiu convencer os colegas brasileiros para reintroduzirem na grafia brasileira as consoantes mudas. Já tinham suprimido e suprimiram-nas com certeza por razões de alfabetização. É muito mais difícil para uma criança aprender a escrever a palavra “óptimo”, com p do que escrevê-la sem p, “director” com c, “recepção” é com p mas “direcção” é com dois c. Portanto mesmo não há articulação comum do ponto de vista fónico, e do ponto de vista morfológico há ortografia diferente; “receção” para os brasileiros, realmente, pronunciam “receção”. Mas do ponto de vista da aprendizagem da grafia, portanto uma criança portuguesa que diga /recepção/ tem que por lá um pê, mas direcção tem que escrever lá mais um c. Ora bem, por razões de escolarização, de alfabetização com certeza que essas consoantes foram suprimidas.

Ora bem, em 1945 os lusitanos, filólogos portugueses conseguiram convencer os colegas brasileiros a reintroduzir, portanto foi tudo feito segundo o desejo do professor Rebelo Gonçalves, uma grande figura - não é isso que está em causa- mas não houve consenso. Uma reforma ortográfica tem que fundamentar-se em razões linguísticas, em razões sociais e culturais, e em razões políticas, e portanto aí do ponto de vista social, do ponto de vista político, não houve realmente bom senso nessa opção que realmente foi tomada. Ainda hoje houve símiles da questão, portanto, um certo número de inteletuais portugueses com grande acesso aos meios de comunicação e que são contra a supressão dessas consoantes, porque ao suprimir essas consoantes “muda-se a fala”. A fala é uma coisa e a escrita é outra. E, portanto, naturalmente [há umas] relações entre a fala e a escrita, porque a ortografia portuguesa tem um critério fonético, no qual também se baseia, mas realmente... o alterar a grafia não implica alterar a fala, não é? Então, eu já disse, é o argumento do medo, e que se nós em direcção tiramos o c, as pessoas vão passar a dizer /dirêção/. Portanto, nós temos palavras em que a pretónica é aberta, “padeiro” por exemplo e não há lá nenhuma marca a indicar que esse “a” é aberto. Por outro lado temos “actualizar”, “actual”, temos lá o cê e no entanto a anterior é fechada, /âtual/, /âtualizar/. Portanto, esse argumento não pega mas, infelizmente, é o que tem impedido.

Portanto é unificação ortográfica porque o Acordo de 1990 foi um acordo possível. Não é o acordo ótimo, porque o ótimo seria a unificação absoluta. E então há aí alguns casos em que era muito difícil conseguir uma base comum. O principal é realmente o das esdrúxulas, em que a tónica “e” e “o” são seguidas de consoante nasal: “António”, “género”, em que do lado brasileiro usam acento circunflexo e do lado português é o acento agudo. Bom, Rebelo Gonçalves conseguiu também convencer os colegas brasileiros a substituir o acento circunflexo pelo agudo. Portanto, era tudo feito à medida do desejo de Portugal e o resultado está à vista. Ora, em 1986, numa primeira tentativa de acordo que se realizou em Abril no Rio de Janeiro, tendo do lado brasileiro o professor Antônio Houaiss, muito empenhado neste processo, optámos por suprimir os acentos, que os nossos alunos das nossas escolas têm uma certa relutância em escrever. E portanto aí tínhamos um argumento que é uma realidade que procede da escrita e portanto a pessoa já sabe que em António, o acento está na penúltima, até discutimos se as duas vogais finais não constituem de certo um ditongo crescente. ortanto, em António, sabe perfeitamente que o acento está aí, e portanto a abertura já faz parte da fala, das diferenças que há entre os falares dos dialetos. Mas esse Acordo, desse ano 86, não conseguimos sacá-lo por diante, enfim, motivou uma reação tão intensa do lado de Portugal, esses inteletuais fundamentalmente que se insurgiam contra o acordo. Depois vinham com outros argumentos, pois muito bem para as palavras de uso comum que já conhecemos o exemplo e não faz falta, mas para as palavras que se aprendem através da escrita, e, nomeadamente, do ponto de vista da aprendizagem da língua como língua estrangeira, para um estrangeiro que encontra a palavra escrita, o facto de ter o acento ajuda a fixar a imagem fónica e a imagem gráfica da palavra.

Portanto, agora, fundamentalmente o que falta é a vontade política. Não há vontade política em Portugal, não tem havido vontade política em Portugal para levar o Acordo por diante. Porque é um medo estúpido, incompreensível, de que através do Acordo Ortográfico o Brasil nos conquistará África, como se nós fôssemos os donos da África. Ou através de um Acordo Ortográfico se conquistasse alguma coisa. Mas há essa preocupação de que através da reforma ortográfica a variante brasileira do português se alargará à África. Ora, uma coisa é a escrita e outra coisa é a fala. E do ponto de vista da oralidade até alguns portugueses que falam nos países africanos lusófonos em têm muitos deles características mais semelhantes ao português que se fala no Brasil que do português que se fala em Portugal. Mas a razão fundamental é esta, não tem havido vontade política. E agora o Brasil -aí o professor Evanildo Bechara poderá dizer melhor- que se propõe aplicar o Acordo já no próximo ano, em 2008. Portugal irá depois a reboque, estou absolutamente convencido, ora era preferível que não fosse a reboque [Prof.ª Maria do Carmo Henriques: Irá para a frente] Muito obrigado, eu já me alonguei demasiado sobre esta questão e não sei se respondi inteiramente à questão.

Responde Evanildo Bechara: Quanto à respectiva ortografia, eu acredito que, se nós não lhe darmos as bases científicas de uma ortografia, jamais chegaremos a um acordo, porque já em 1911 e antes, Gonçalves Viana e Vasconcelos Abreu, em 1885-86 já tinham trabalhado no sentido de uma alteração, de uma mudança ortográfica. Tanto em 1885-86 como em 1911 nós tínhamos uma realidade educacional, cultural, diferente de hoje. A linguística nos mostra que uma língua comum só consegue relativa unidade na sua morfossintaxe e os acordos ortográficos querem fazer partir o sistema ortográfico da fonética, duma verdade fonética ou fonológica. Enquanto nós não abolirmos esta preocupação com a realidade fonética e fonológica, não chegaremos a um acordo. Nós vimos pela informação do nosso querido professor Malaca Casteleiro a grita que houve porque o dicionário da Academia registou a pronúncia lusitana, e não registou a realidade de outra pronúncia corrente em Portugal, pelo menos uma pronúncia, acredito coimbrã, de modo que enquanto os ortógrafos ficarem fixados na ortografia, fixados no elemento fonético-fonológico jamais poderemos chegar a um acordo.

Se nós compararmos uma primeira edição de Machado de Assis, por exemplo, 1886, 1900, com a mesma página de Machado de Assis hoje, nós vamos ver que o número de acentos no texto impresso hoje é muito maior, às vezes chega a quatro vezes mais os acentos usados na primeira edição ou numa edição de 1896 ou de 1900. E acontece que esse texto, com uma economia de acentos, era entendido pelas pessoas, e quando a pessoa tinha dificuldade, procurava um dicionário. O dicionário foi feito para ser consultado. Quando nós lemos inglês e quando nós lemos alemão, alemão já não digo tanto porque tem uma ortografia muito próxima da realidade fonética e fonológica, mas no caso do inglês nós nunca sabemos qual será a pronúncia daquela palavra se a vemos pela primeira vez. Eu tenho um livro de dois foneticistas americanos que dizem que se nós damos uma palavra a dez americanos, palavras que eles nunca viram, nós vamos encontrar no mínimo sete tentativas ou sete possibilidades de pronúncia. E o inglês não usa acento, então eu acredito que é o nosso grande problema, porque no sistema ortográfico nós já resolvemos os problemas etimológicos, já acabámos com os grupos gregos ph, sc, etc.

É dizer, a parte etimológica da ortografia já está muito bem racionalizada, agora fica a parte de acentuação. Ora, o emprego de um acento é como se fosse um estímulo à provocação entre realidades fonéticas diferentes, quer realidades nacionais como o Brasil e Portugal, quer realidades dentro do próprio espaço, por exemplo pronúncias diferentes no Brasil da mesma palavra e pronúncias diferentes em Portugal. Quer dizer, enquanto a o sistema ortográfico ficar aumentando o número de utilização de acentos, isto provoca uma dificuldade de uma unificação porque o acento é sempre um desafio, é sempre uma provocação a uma realidade fonética quer dentro do país, nas suas várias regiões, quer na comparação de um sistema fonológico. Ora, nós sabemos, por exemplo, na gramática nós podemos chegar a uma unidade morfossintática em todo o domínio da Lusofonia, mas não podemos fazê-lo no campo da fonética. E o que é que acontece com os ortógrafos desde Gonçalves Viana e Vasconcellos de Abreu em 1885-86, é que há uma necessidade de acentos para facilitar a pronúncia. Ora, essa facilitação da pronúncia naquela época era até justificável, porque a rede escolar era muito restrita. Nós não contávamos com os elementos da mídia falada, como nós temos hoje a televisão, o rádio, etc. De modo que mudou o panorama educacional entre 1885 e 2005-07. E, depois, o acento não garante, quer o acento quer os sinais diacríticos, não garantem a boa pronúncia da palavra, por exemplo, a palavra questão não tem trema e no Rio de Janeiro cada vez mais se acentua a pronúncia qüestão, qüestionário etc. A palavra “recém” tem um longo acento agudo na sílaba tónica e a pronúncia normal é “récem nascido”, “récem criado”, quer dizer a pessoa põe o acento mas não o respeita à hora de proferir. De modo que os ortógrafos têm dado grande importância à presença do acento. Ora a presença do acento numa ortografia vai criar situações de oposição entre a pronúncia, quer no mesmo país, quer em países diferentes. E nós sabemos que o falante resolve o seu problema, vejam por exemplo o caso do plural por metafonia: o plural por metafonia não leva nenhum acento, e todos nós sabemos quando o singular tem o timbre fechado e o plural tem o timbre aberto e que há, naturalmente, variações dessas pronúncias. Portanto, eu acho que o grande problema e a grande dificuldade de uma unificação ortográfica é que a atenção dos ortógrafos está voltada para o maior número de acentos, o que significa a maior provocação de diversidade da realidade fonética entre quer o mesmo país, quer em países diferentes. Eu creio que uma palavra como “Antônio”, proferida em Portugal com timbre aberto e no Brasil com timbre fechado, se nós não usamos o acento os portugueses continuam com timbre aberto, os brasileiros continuam com timbre fechado, e isso não é geral porque no Brasil também existe “António”, aquela região de pescadores da região dos Lagos, que é uma região de contingentes de antigos portugueses, é assim que se pronuncia a palavra, “António”. Quer a pronúncia seja “António”, quer “Antônio”, escrita sem acento nós poderemos chegar a uma unidade ortográfica. Agora se nós quisermos usar o acento com valor, com preocupação pedagógica, didática e educacional jamais teremos um acordo ortográfico. Então a meu ver essa unidade ortográfica só se obterá se nós chegamos a uma mudança da filosofia que deve presidir um Acordo Ortográfico para toda a Lusofonia.

Público assistente às Conferências

Comentário de António Gil: Um apontamento: No italiano a realidade é que não utilizam quase acentos. [Comentário do Professor Bechara: A não ser nos subtítulos] E o que acontece é que na Itália a unidade linguística era relativamente mínima no princípio da existência do estado italiano e não obstante agora na realidade é que o italiano se expandiu totalmente, pode dizer-se que é a única língua da nação e os dialetos estão em recessão total. Portanto...

Resposta de Evanildo Bechara: É. Um linguista italiano dizia que antes do boom da televisão quando quatro ou cinco italianos se juntavam pelo menos três falavam dialetalmente, depois de 1960 essa estatística mudou consideravelmente. Porque nós temos é que fazer frente a que os nossos locutores tanto de rádio como de televisão que não sejam escolhidos pela sua beleza física, mas que sejam promotores da boa pronúncia naquela região em que eles estão falando. Como antigamente os locutores no Rio de Janeiro passavam por um curso de locução, de prosódia, de ortoépia, para que pudessem agir como um elemento difusor da cultura, da língua naquela região.

Pergunta 2 (uma pessoa do público): Só uma pergunta, no caso do Brasil, por exemplo, qual seria a boa pronúncia do português do Brasil, seria a do Sul, a do Rio de Janeiro, a do Pará, a do Amazonas, a de Pernambuco, a da Paraíba? Será que esse conceito de boa pronúncia no Brasil é um conceito político... muitas vezes...

Resposta de Evanildo Bechara: Não, pode haver até uma influência política mas eu responderia com uma frase de um linguista do XIX, um dinamarquês, Otto Jespersen, que dizia: «Cada pessoa culta é um clássico na sua língua» seja ele falante de Londres, seja ele falante de Liverpool, etc. Então nós nunca teremos a boa pronúncia, a boa pronúncia é a pronúncia de cada região. Qual é a boa pronúncia de Portugal? Se ele for lisboeta será a de Lisboa, se ele for de Coimbra será a coimbrã, se ele for carioca será a pronúncia carioca, se ele for paulista será a pronúncia paulista. Quer dizer, não existe a boa pronúncia e isso é uma, é um fantasma que dominava a filosofia dos estudos linguísticos quando se via a língua como um produto natural que nascia, crescia e evoluia independente da vontade do homem. E hoje não, hoje a língua é vista como um produto social, não é? O Sapir diz que nós só falamos porque nascemos no regaço de uma sociedade. Então isso significa que cada região é a sua pronúncia, é o conceito de norma. O que é norma? Antigamente se imaginava “norma” como uma... alguma coisa unitária e uniforme. Hoje norma é o que é normal em cada região, a norma é o que é normal, fixada por uma tradição. De modo que, antigamente por exemplo, no Brasil havia essa ideia de que a melhor pronúncia era a do Pará porque no Pará nós tivemos uma maior influência portuguesa. E isso não existe. Não existe na França, qual é a melhor pronúncia francesa? Não existe. Não, é a pronúncia de cada região, já que a língua é um fenômeno exclusivamente social, histórico-social.

Malaca Casteleiro: Houve em 1986 uma tal reação em Portugal [...] que era impossível.

Evanildo Bechara: É o que eu digo, é a mudança da filosofia que preside à unificação ortográfica. Eu não proponho a abolição dos acentos. O que eu proponho é uma racionalização dos acentos onde tenham uma influência só de sílaba tônica, não de timbre, se aberta ou fechada, como faz por exemplo o espanhol. O espanhol teve mais sorte do que nós porque o espanhol só trabalha com cinco vogais. Eles não têm essa oposição /e/ /ê/ como nós temos, /o/ /ô/, porque eles ditongam as vogais breves. Mas de qualquer maneira nós temos que mudar a filosofia do emprego dos acentos. Se nós chegamos a uma filosofia de tal maneira que o acento marque a sílaba tônica, seja de timbre aberto ou fechado, mas marque a sílaba tônica e não generalizar o acento para todos os casos, nós chegaremos a isso. Numa página de Machado de Assis de 1896 ou 1900, se nós contarmos o emprego dos acentos, nós temos aproximadamente quatro ou cinco palavras acentuadas. Se verificarmos a mesma página num texto impresso depois das reformas ortográficas, aqueles quatro ou cinco acentos são duplicados ou triplicados. Essa é a presença do acento num texto moderno, de modo que o que o que nós devemos fazer é chegarmos a um denominador comum. Há um trabalho de um professor publicado num órgão da imprensa lisboeta onde ele pegou o vocabulário fundamental, são duas mil e tantas palavras. E ele verificou que a coincidência de acentuação entre Brasil e Portugal chega a 90%, quer para o emprego do acento agudo, quer para o acento circunflexo. De modo que a mudança de filosofia é procurar uma racionalização para esses 10% que contrariam a pronúncia, o uso do acento agudo ou do acento circunflexo entre Brasil e Portugal e o resto da Lusofonia. Quer dizer, o nosso problema de acentuação está nesses 10% que mostram uma divergência entre o emprego do acento. Nós teríamos que partir de aí, qual é a solução eu não sei, porque eu não estudei o problema, mas somos suficientemente, não digo inteligentes mas preparados, para chegarmos à solução desses 10%, porque os 90% já foram resolvidos por essa tradição ortográfica. De modo que por isso é que eu acho que o Brasil não devia entrar logo com o Acordo fixado. Por que? Porque se nós estudarmos mais a filosofia da ortografia nós poderemos chegar de aqui a um ano, dois anos, a um sistema que atendesse a todas as componentes da Lusofonia.

José Luís Rodrigues: Bom, então se não houver mais perguntas, tendo em conta já que é uma hora um pouco avançada, encerramos o ato. Mas quero-o fazer, agradecendo muitíssimo a presença dos quatro oradores tanto do colega de tantas lutas passadas, o Professor Martinho Montero Santalha, quase coetâneo meu, como da amiga, minha antiga professora que hoje é colega e amiga, Professora Maria do Carmo Henriques, como especialmente aos nossos convidados e representantes das academias e das universidades de Portugal e do Brasil, que estou certo voltarão muitas vezes mais a esta universidade porque esta universidade tem necessidade de escutar sempre a sua palavra sábia. E estou seguro disso. Muito obrigado a todos.

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[debate desde 1 h. 27 min. 40 seg. até o final]

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