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António Gil Hernández, presidente da AGLP, falou dos seus estudos sobre Biqueira na Universidade da Corunha

Salientou o Biqueira político, para além dos seus contributos literários, à Filosofia e à Psicologia, e a sua proposta de convergência ortográfica galego-portuguesa. A estes assuntos António Gil tem dedicado mais de três décadas de estudo.

 

AGLP 05/03/2025

Texto: J. Rodrigues Gomes; Produção: Xico Paradelo.


João Vicente Biqueira1 (Madrid, 22/10/1886- Lagoa-Bergondo, 29/08/1924) “sobretudo era um bom galego. Os problemas políticos e sociais da nossa Terra encontraram uma calorosa ressonância no seu peito generoso e ao lado dos nacionalistas galegos” afirma-se no livro Johán Vicente Viqueira. João Vicente Biqueira (1924-2024). Poemas e Ensaios, publicado na Através Editora em 2024, em edição que promoveu a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e sob a responsabilidade de António Gil Hernández, agora presidente desta instituição. Os elementos dessa citação estiveram no centro da sua intervenção na Faculdade de Filologia da Universidade da Corunha o 25 de fevereiro, onde proferiu uma palestra sobre Biqueira e a Galiza federada. A sua presença deveu-se a um convite dos Professores Isaac Lourido e Roberto Samartim, e ao grupo de investigação ILLA, o que lhe ofereceu ocasião de conversar com estudantes das Filologias sobre a trajetória de Biqueira, com ensejo do centenário da morte deste vulto da Galiza.

Foto dos assistentes à palestra de 25 de fevereiro deste ano 2025 na Facultade de Filoloxía da UDC. Junto do professor Gil está o Prof. Isaac Lourido.

António Gil Hernández investiga sobre este intelectual galeguista há mais de três décadas. Em 30 de junho de 1994 participou num ato literário sobre Biqueira na Casa de Cultura do Concelho de Bergondo, sob presidência do seu filho, o Eng. Jacinto Viqueira Landa e esposa; foi uma atividade em que se honrou a memória de Biqueira no septuagésimo aniversário da sua morte. Já antes se tinha interessado Gil por este vulto, e continuou com novos contributos nos anos seguintes. Para além do pensamento político, assunto em que centrou esta palestra na Universidade da Corunha, também trabalhou sobre os contributos de Biqueira à Literatura Galega, onde destaca, entre outros assuntos, por ser um adiantado do movimento do Neo-trovadorismo, anos antes de Bouza Brei, quem está considerado hoje o seu iniciador; no Campo da Psicologia tem destaque por ser introdutor da Psicologia Experimental na Península Ibérica, após ter tido relação direta com W. Wundt; salientam igualmente os seus estudos sobre o bilinguismo e a psicologia da educação; e conta também com uma importante obra filosófica. Biqueira também foi um dos primeiros defensores da convergência ortográfica galego-portuguesa. E todos eles são assuntos do maior relevo e de atualidade, assinala Gil Hernández.

A respeito desta recente intervenção na Faculdade de Filologia corunhesa, manifesta António Gil: “Entendi que a palestra deveria ser levada como conversa com as pessoas assistentes mais do que como conferência quase protocolária. Nem o tempo programado, entre as 13.00 e as 14.00 horas, nem o previsível interesse do público aconselhavam o contrário. Comecei dando uma leve notícia sobre a pessoa e obra de Biqueira, que foi Catedrático do Instituto de Secundária Eusébio Da Guarda, presidente das Irmandades da Fala na Crunha e mais participante da Assembleia Nacionalista de Lugo. Continuei com a leitura do artigo ‘O dia de mañán’, publicado postumamente, em 6 de decembro de 1924, no semanário socialista Justicia Social, órgão da USC (Unió Socialista de Catalunya)”. Esclarece António Gil como neste artigo Biqueira se declara republicano e federalista, e ressalta o seguinte excerto:

No crítico momento presente conviria que os elementos que somos partidarios de un novo federalismo, en que nos achamos arredados os uns dos outros, entrásemos en comunicación. Para elo o centro poderia ser o valioso nucleo que integra Justicia Social. Nesta comunicación concretaríanse as concepciós que o dia de mañan serian un feito. [...] Que estas liñas de verdadeira simpatia pol-os meus amigos cátalas, poidan espertar o interés, en toda España, por unha meditación sobre dun futuro estado republicano federal socialista ou social, meditación que si é fonda e sinceira, trocarase o día de mañán en realidades”.

Após diversos comentários a esse e outros textos biqueiranos, citou também o seguinte trecho da conferência "Divagações enxebristas":

A Humanidade, para cumprir todas as promessas que leva no seu seio ou, ainda melhor, para criar tudo o que leva em potência (pois, antes de ser, onde jaz?), desfaz-se em Nações. Já a vida precisa, para ser, do princípio de individuação, a saber, de ser como indivíduo ou concreções de indivíduos. Idêntico princípio é o da evolução humana que também é cósmica, quer dizer, uma parte do processo universal. Como vedes, o meu Nacionalismo tem uma base cósmica e metafísica. A Humanidade desfaz-se em Nações, porque precisa órgãos. As Nações, pois, são órgãos da Humanidade. Elas fazem tudo o que é factível em cada tempo. Não num momento de tempo, mas no se sucederem os tempos. E aqui, também, cada uma tem a sua missão; e quando a sua missão acaba, morre! Mas a missão da Galiza chega e por isso ressurge”.

Esta citação é da Obra seleta de Johán Vicente Viqueira (página 72), que António Gil Hernández publicou no ano 2011 na coleção Clássicos da Galiza [nas Edições da Galiza, de Barcelona], promovida pela AGLP. Também é autor de um longo artigo “Johán Vicente Viqueira e a Comunidade Lusófona da Galiza”, nos boletins números 10 e 11 da AGLP, correspondentes aos anos 2017 e 2018 [estes boletins estão disponíveis, de acesso livre e de graça, neste sítio web da AGLP].

Esta intervenção na Universidade da Corunha finalizou com um breve colóquio sobre Biqueira pensador e político, e também sobre o seu poetar. “Muito agradeço aos professores Lourido e Samartim, ao grupo ILLA e à Faculdade as facilidades para realizar o ato-conferência sobre Biqueira”, sublinhou o presidente da AGLP.


1 Gil Hernández tem utilizado indistintamente Viqueira e Biqueira: Viqueira por ser “a denominação por ele usada”, e para “respeitar o desejo expresso da família”; mas Biqueira, por considerar que dever ser assim mais corretamente grafado este apelido “com B inicial, por ser derivado de bico”, segundo esclarece em Obra seleta de Johán Vicente Viqueira (Gil Hernández, 2011, página 13).

Edição galega da Estilística de Rodrigues Lapa, o português que estudava escritores da Galiza como modelos de língua, com o apoio da AGLP

 

Paulo Mirás, numerário da AGLP, é o diretor editorial da publicação, que sai do prelo da Através com um “Prólogo” do professor José Luís Rodríguez

 

AGLP 01/03/2025

Texto: J. Rodrigues Gomes; Produção: Xico Paradelo.


A Estilística da Língua Portuguesa, do filólogo, ensaísta e professor português Manuel Rodrigues Lapa (Anadia, 1897-1989) “mantém características únicas que a tornam especial e insubstituível. A sua abordagem à língua e ao estilo continua a ser um marco, oferecendo detalhes valiosos que não se encontram noutros trabalhos. Esta reedição é uma homenagem ao seu legado e uma oportunidade para as novas gerações descobrirem uma obra que moldou o estudo da língua portuguesa”, afirma o professor Paulo Mirás, numerário da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e diretor editorial da primeira edição galega desta obra clássica. A publicação sai agora do prelo da editora Através, de Santiago de Compostela, coincidindo com o 80 º aniversário da primeira edição na Seara Nova de Lisboa no ano 1945. Esta é uma edição que promove a AGLP.

Em vida de Rodrigues Lapa contou com até onze edições, em Portugal e no Brasil. Esta nova edição galega acompanha-se de um prólogo de José Luís Rodríguez, professor catedrático da Universidade de Santiago de Compostela, quem o conheceu e colaborou estreitamente com ele. Rodríguez põe em destaque os trabalhos de Rodrigues Lapa sobre a Galiza e lembra como, já desde 1933, aborda a política do idioma, em que “vê três modalidades: a galega, a lusitana e a brasileira, às quais muito mais tarde haverá de acrescentar pelo menos a africana ou africanas, após a independência das antigas colónias. E propõe avançar na unificação ortográfica, sempre que possível, tanto com o Brasil como com a Galiza”.

O livro editado pela Através tem 230 páginas, incluído um “Índice analítico” de autores, matérias e palavras. Para além do antes citado “Prólogo”, o volume consta de 15 capítulos: quatro deles dedicados ao vocabulário português, e outros sobre a fraseologia, a formação das palavras, o artigo e os pronomes, o adjectivo e os nomes, os pronomes, dois capítulos sobre o verbo, um específico sobre a concordância, e os três últimos sobre palavras invariáveis. 

Os dois primeiros lançamentos do livro estão agendados para o 7 de março, no Porto, na UNICEPE, cooperativa livreira de estudantes do Porto [na Praça de Carlos Alberto 128 A] às 18.00 horas, com a intervenção de Joana Matos Gomes, da Universidade do Porto, e Paulo Mirás; e o 4 de abril na livraria Centéssima Página, de Braga, pelas 18.30 horas, com a presença de Álvaro Iriarte Sanromán, professor da Universidade do Minho,  com José Luís Rodríguez e Paulo Mirás.

 

Literatura galega em diálogo com as literaturas lusófonas

Na Estilística da Língua Portuguesa, para além de estudar o estilo de grandes nomes das literaturas lusófonas (Eça de Queirós, Machado de Assis, Camões, Guimarães Rosa, Camilo Castelo Branco, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e mais), Rodrigues Lapa também se ocupa do estilo de escritores da Galiza, como Castelao, Carvalho Calero, Novoneyra, Otero Pedrayo, Cabanillas, Blanco Amor, Fole ou Xavier Alcalá.

Como exemplificação do tratamento de autores da Galiza, no segundo dos capítulos que dedica ao vocabulário, ao falar do eufemismo, após citar o caso do conselheiro Acácio, famoso personagem de Eça de Queirós, acrescenta Rodrigues Lapa (p. 33): “Até os ladrões entre si usam o eufemismo, como aquele ratoneiro duma novela de Castelao, que suavizou o termo roubar em apanhar”, acrescentando um trecho de Os dous de sempre.

Devemos valorizar o interesse e o esforço de Rodrigues Lapa como um trabalho visionário que construía pontes além das nossas fronteiras, tanto dentro como fora da Europa. A sua obra serve para nos abrir os olhos e mostrar que não estamos sós no mundo: partilhamos uma língua comum que deve ser dignificada e celebrada. Para Lapa, os nossos escritores fazem parte de um universo linguístico e cultural mais amplo, onde o galego e o português se complementam e enriquecem mutuamente”, afirma Paulo Mirás.

Ele via a língua como um instrumento vivo, cheio de recursos e estilo, capaz de crescer e evoluir com os seus utilizadores. A sua defesa da ortografia portuguesa como algo tão nosso quanto deles deixa claro o seu ponto de vista: a língua é um património partilhado, que transcende fronteiras e se fortalece na sua diversidade. Rodrigues Lapa não só nos ensinou a valorizar a nossa língua, mas também a vê-la como um elo de união e identidade no mundo lusófono”, acrescenta o diretor editorial do volume.

 

Um referente incontornável”

Paulo Mirás frisa que, para a Galiza atual “Rodrigues Lapa continua a ser um referente incontornável sobre como escrever bem na nossa língua. O professor português sempre considerou os autores galegos como exemplares para Portugal e o Brasil, vendo o galego como uma extensão natural da língua portuguesa. A Galiza ocupava um lugar especial no seu coração, algo que fica evidente nas suas inúmeras viagens à nossa terra e na sua dedicação ao estudo e promoção da cultura galega. Esta relação profunda com a Galiza materializou-se em obras como os Estudos Galego-Portugueses. Rodrigues Lapa não só valorizou a nossa língua, mas também a integrou num contexto mais amplo, reforçando a sua importância como património partilhado e vivo”.

Página da obra no site da Através editora.

Mirás Fernandes, Paulo (1990)

Paulo Fernandes Mirás nasceu em Ordes e realizou estudos superiores na cidade da Corunha, onde cursou Inglês e Galego e Português; os mestrados de Literatura Cultura e Diversidade e de Professorado de Educação Secundária Obrigatória, Formação Profissional e Ensino de Idiomas. Atualmente, está a fazer o Doutoramento em Estudos Literários também na Universidade da Corunha.

Foi o responsável das antologias poéticas de Ricardo Carvalho Calero (2019) e Ernesto Guerra da Cal (2021), publicadas na Através Editora, a biografia de Ricardo Carvalho Calero (2020) publicada na editora Ir Indo e os livros de poemas Estado Demente Comrazão (2022), editado na Através Editora e A toada de pedra (2023), publicado na Editora Medulia.
É professor de Língua e Literatura Galegas e Língua Portuguesa, investigador do grupo ILLA da Universidade da Corunha, Académico Numerário da Academia Galega da Língua Portuguesa, responsável do Boletim da AGLP, membro da União de Escritores de Língua Portuguesa e membro da equipa editorial da Através Editora, onde coordenou livros como Mover os marcos e João Vicente Biqueira - Johán Vicente Viqueira (1924-2024), entre outros.

 

Rodrigues Gomes, Joel (1959)

Joel Rodrigues Gomes nasceu em Ourense em 1959.

Estudos: licenciado em Filosofia e Ciências da Educação (seção Psicologia) e em Filologia Portuguesa pela Universidade de Santiago de Compostela (USC).

De profissão jornalista, exerceu no La Voz de Galicia entre 1981 e 2022. Está casado e tem uma filha.

Na sua produção de investigação salientam trabalhos de pesquisa académica sobre a figura e legado de Ernesto Guerra da Cal e sobre os Seis Poemas Galegos de Federico Garcia Lorca, realizados no Grupo de Estudo dos Sistemas Culturais Galego, Luso, Brasileiro e Africanos de Língua Portuguesa (Galabra) da USC. Publicações nesse campo são:

Fazer(-se) um nome. Eça de Queirós-Guerra da Cal: um duplo processo de canonicidade literária na segunda metade do século XX (Sada, Ed. do Castro, 2002).

A sua tese de doutoramento, orientada pelo Professor Doutor Elias J. Torres Feijó, intitulada A trajetória de Ernesto Guerra da Cal nos campos científico e literário (Serviço de Publicações da USC, 2009).

Os Seis poemas galegos de Federico García Lorca e os cânones das literaturas espanhola, galega e brasileira”, Romance Notes, 2013, 53:2, 221-236 (com Elias J. Torres Feijó).

Falou Ernesto Guerra da Cal (1985)! A construção de um novo discurso sobre os Seis poemas galegos de Federico García Lorca”, in Gil Hernández, António (2016), Estudos sobre Guerra da Cal, Santiago de Compostela, Academia Galega da Língua Portuguesa, pp. 17-33.

Turismo, literatura e internacionalidade. A afortunada história de Ramón de Sismundi após a intervenção de F. García Lorca, E. Guerra da Cal, E. Blanco Amor, Anxel Casal e Júlio Dávila”, Terras do Ortegal, 2023. Pp. 163-193.

Editou, com Elias J. Torres Feijó, o estudo Rosalia de Castro. A Mulher e o Poeta, de Alberto Machado da Rosa (Santiago de Compostela, Laiovento, 2005), a primeira tese de doutoramento em português defendida nos EUA, em 1953 na Universidade de Wisconsin (Madison).

Para além de outros estudos difundidos em Atas de congressos e revistas especializadas da Galiza, Portugal, Brasil e os EUA.

Da produção jornalística, para além das informações durante mais de quatro décadas no La Voz de Galicia publicou o livro Vite de Compostela. A comunidade (auto-)construída (Santiago de Compostela, 2023, Incipit-CSIC). Também elaborou os índices de conteúdos da revista Agália, disponíveis nos números 65 (pp. 101-290, dos anos 1985-2000), 104 (pp. 155-277, do período 2001-2009) e 114 (pp. 145-195, entre 2009-2016, os anos finais da publicação, com 3.253 verbetes no total).

Da produção literária, podem citar-se as narrativas Quando o sol arde na noite (A Corunha, AGAL, 1990), Para um clima supremo (Santiago de Compostela, Laiovento, 1995, no volume Relatos), e Todo o sim de Lor (Vigo, Galaxia, 2001, no volume Paisaxes con palabras); ou os textos para teatro A Desforra (A Corunha, Escola Dramática Galega, 1991) e Teatro à medida e pronto para si (A Corunha, AGAL, 1998).

 

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