O Dia da AGLP homenageou o trabalho de José Luís Fontenla por uma Galiza melhor e mais próspera
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Fontenla fez parte das delegações galegas que participaram nos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa do Rio de Janeiro (1986) e Lisboa (1990). Foi advogado, ativista cultural e político, editor, escritor e pintor, segundo se salientou no ato.
AGLP 06/10/2025
Texto: J. Rodrigues Gomes; Coordenação Linguística: A. Cortiças Leira; Fotografias: José Gorís; Produção: Xico Paradelo.
Levo na mão poesia
num saco branco
de lírios
cada abrente da manhã
levo na mão poesia
cada dia
num saco branco
de lírios
e não amanhece!
(José Luís Fontenla Rodrigues. Do livro Sememas)
O Dia da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) homenageou na tarde do dia 4 de outubro na Casa da Língua Comum, em Santiago de Compostela, os trabalhos e a trajetória de José Luís Fontenla Rodrigues (Ponte Vedra, 1944 - Oleiros, 2025) por uma Galiza melhor, próspera, galega e lusófona. Falecido o 28 de junho deste ano, ele foi advogado, ativista cultural e político, escritor e pintor, segundo se salientou no ato. Foi posto em destaque, muito especialmente, ter participado como representante da delegação galega nos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, em 1986, juntamente com Adela Figueroa Panisse e Isaac Alonso Estraviz; e no de Lisboa, em 1990, neste acompanhado de António Gil Hernández.
Também foram postas em destaque as suas produções literárias, tendo sido recitadas algumas das suas composições poéticas, recolhidas numa pequena e modesta seleção publicada com ensejo desta atividade.
O presidente da Fundação da AGLP, António Gil Hernández, lembrou também no ato as figuras de Evanildo Bechara, Blanca Garcia Fernández-Albalat, José Paz e Higino Martins, que pertenceram à instituição, falecidas também recentemente. Na homenagem estiveram presentes representações de diversas organizações políticas e culturais da Galiza.
Percurso biográfico
Luís Fontenla Figueroa, filho do homenageado, fez um percurso pelos acontecimentos que considerou mais marcantes na biografia do seu pai, desde os antecedentes familiares a empreendimentos em que se empenhou. Nascido no seio de uma família “conservadora e católica”, sempre se preocupou por “obter resultados”, disse. Fontenla Rodrigues “foi bom gestor dos discursos públicos possíveis” e com a sua atuação ele “construiu muitos projetos e organizou muitos outros” tentando, em muitas ocasiões, “fugir da autoria, mas provocar resultados”.
Aludiu à sua implicação no I Congresso de Direito Civil Galego, no Conselho das Forças Políticas Galegas, na legalização da AN-PG e da UPG, ao seu papel como acionista do jornal A Nosa Terra, como promotor e dirigente da Associação para a Defesa Ecológica de Galiza (ADEGA), uma função que se reconhece nesta altura em Santiago de Compostela, numa exposição comemorativa dos 50 anos dessa entidade, disponível para o público na Alameda da cidade) ou da editora SEPT.
O filho citou também os seus esforços por ter informação de primeira mão do Conselho da Galiza, através de contactos diretos com algumas pessoas que o integraram, ou mesmo com o político basco Manuel de Irujo. Não esqueceu Fontenla Figueroa a presença do seu pai no Ateneu de Ponte Vedra e com o coletivo Amigos da Cultura dessa cidade, defendendo o reconhecimento do direito civil galego, e centrando-se no melhoramento da língua da Galiza. Nesta última função, ele foi membro pioneiro da Associaçom Galega da Língua. Mas, sobretudo, é lembrado por ter promovido e trabalhado muito intensamente nas Irmandades da Fala de Galiza e Portugal e nas revistas Nós, Cadernos do Povo, O Ensino e Temas d’O Ensino, segundo referiu.
Nos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa
A continuação, António Gil Hernández, quem foi estreito colaborador do ativismo linguístico, cultural e editor de Fontenla Rodrigues, referiu-se à participação do homenageado nos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa do Rio de Janeiro e de Lisboa. Foi ressaltado também por Gil o facto de Fontenla ter sido das primeiras pessoas do mundo a utilizar, em publicações, as normas desses acordos, e como trabalhou muito ativamente para que fossem aplicadas na Galiza.
Gil Hernández fez um percurso por algumas datas e acontecimentos marcantes na História política da Língua da Galiza, que podem ser consideradas antecedentes dessa atuação de Fontenla Rodrigues. Assim, citou António Gil a grafia etimológica que promovia a Real Academia Galega em 1909; o vocabulário das Irmandades de Fala de 1933; a proposta ortográfica do Seminário de Estudos Galegos; já no franquismo, os livros de Ernesto Guerra da Cal de 1959 e 1963; as Normas da Real Academia Galega de 1970 e as primeiras Normas Ortográficas e Morfológicas do Idioma Galego (Nomiga) de 1971, ano em que principiou o seu andamento o Instituto de la Lengua Gallega na Universidade de Santiago de Compostela. Com posterioridade, as Normas elaboradas por uma Comissão Linguística presidida por Carvalho Calero, publicadas no Boletín Oficial da Xunta de Galicia e promovidas pelo Governo da Galiza nos tempos da pré-autonomia e nos inícios do regime autonómico; e, finalmente, as de abril de 1983, ainda vigorantes, após uma mínima modificação efeituada no ano 2003.
Ressaltou o trabalho de organizações como a Associaçom Galega da Língua, a AS-PG e das Irmandades da Fala de Galiza e Portugal, com as alternativas que promoveram desde a década de 1980-1990, e o envolvimento nelas de José Luís Fontenla Rodrigues. Gil Hernández lembrou o relevo de uma reunião celebrada em Ponte Vedra “seis meses antes do Acordo do Rio de Janeiro”, em que participaram os professores Fernando Cristóvão, Ricardo Carvalho Calero, José-Martinho Montero Santalha e Isaac Alonso Estraviz, e os escritores Fernando Assis Pacheco e Moncho de Fidalgo, e em que se acordou o interesse e a conveniência da presença de representantes da Galiza nesse Acordo Ortográfico agendado na cidade brasileira em maio de 1986, o que se conseguiria com as gestões também de Ernesto Guerra da Cal. António Gil referiu igualmente a participação posterior no Acordo Ortográfico de Lisboa de 1990, onde se recolheram os termos “lôstrego” e “brêtema” como exemplificações galegas. Já no tempo da AGLP, fundada em 2008, foi elaborado o Vocabulário Ortográfico Galego, sob a direção de Carlos Durão, já aceite e incorporado na língua comum.
Ainda lembrou Gil Hernández a defesa e o trabalho de Fontenla Rodrigues para que os países africanos de língua portuguesa (conhecidos como os PALOP) tivessem participação nas reuniões e negociações desses Acordos Ortográficos de 1986 e 1990, e mesmo as gestões diretas que realizou ao respeito em 1990, na Embaixada de Angola em Lisboa, para a sua presença efetiva nas reuniões, que finalizaram com a assinatura do documento em 12 de outubro desse ano, “com a adesão da Delegação de Observadores da Galiza”.
A Lusofonia, porta aberta e oportunidade para a Galiza.
Seguidamente, interveio Ângelo Cristóvão, também da Comissão Executiva da AGLP, amigo e colaborador de longa data de José Luís Fontenla Rodrigues, na atividade linguística, cultural e editorial. Ângelo Cristóvão reprovou o “esforço por ocultar a sua figura” na Galiza e valorizou e singularizou o trabalho de Fontenla Rodrigues como editor, nos anos 1985-2001. Destacou as revistas O Ensino (1985-1988), Temas de O Ensino (1986-1994), Nós (1986-2000) e Cadernos do Povo (1986-2001), bem como publicações de poesia, ensaio e teatro de produtoras e produtores da Galiza, e da Lusofonia, promovidas por ele. Fontenla também publicou numerosos e muito valiosos trabalhos, que por vezes assinou com nomes como João Padrão, Luís Roiz ou António Eirinha.
Ângelo Cristóvão referiu o esforço que representava para Fontenla acudir muito frequentemente, mesmo duas ou três vezes algumas semanas, à empresa gráfica Barbosa e Xavier, de Braga, onde se aprontavam essas edições, para preocupar-se de que tudo saísse bem. Deteve-se Cristóvão na coleção Clássicos da Galiza iniciada naquela altura por Fontenla e continuada com posterioridade pela AGLP; ou publicações como Mátria da Palavra, Incipet Liber da Lusofonia, em 1990, insistindo como a Lusofonia é uma porta aberta, uma oportunidade para a Galiza e para os seus escritores entrarem na República Literária.
A poesia de Fontenla Rodrigues
A segunda parte do ato consistiu na leitura de poemas de José Luís Fontenla Rodrigues, iniciada por Antia Cortiças Leira, académica numerária da AGLP que trabalhou na edição da publicação comemorativa editada com ensejo desta homenagem e que se distribuiu no ato. Também leram poemas Irene Veiga, correspondente da AGLP; Ângelo Cristóvão, Luís Fontenla Figueroa e a sua irmã Cristina Fontenla Figueroa.
Adesões e doação
António Gil Hernández deu conta das adesões do escritor José Maria Monterroso Devesa, do professor José Luís Rodríguez, e da académica correspondente da AGLP Inês Andrade Pais que, por variadas circunstâncias, não puderam participar presencialmente.
O ato finalizou com a doação por parte de Luís Fontenla Figueroa de diversas pertenças do seu pai, como a bandeira da Galiza com que foi velado e acompanhado nos atos fúnebres, que já pertencera a seu pai; uma bandeira de Portugal, carimbos e fotografias, entre outros elementos. Todos estes contributos incorporam-se agora à sua biblioteca, que foi doada no ano 2018 pela família e está disponível na Casa da Língua Comum, segundo foi referido.
O Dia da Academia Galega da Língua Portuguesa celebra-se anualmente o 6 de outubro, ou em datas próximas, com o intuito de comemorar o dia em que começou o andamento da AGLP, no ano 2008.