PESAR POLA MORTE DE BRANCA GARCIA FERNÁNDEZ-ALBALAT

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Moçambique, 1961
Nasceu em Pemba, Moçambique em 1961 e reside em Portugal desde 1975.
A natureza, a escrita, a arte são o fundamento do seu universo – poesia, prosa, pintura, ilustração e fotografia.
Da escrita publicou O Mar que Toca em Ti (crónica de viagem, 2002), Paredes Abertas ao Céu (poesia 2011, prefácio de Fernanda Angius), Da Estrada Vermelha (Poesia 2015), Da Eterna Vontade (poesia, Labirinto 2015), À Margem de Todos os Rostos (poesia, Coisas de Ler 2017) e Sobre a Água Dentro Dela Anda uma Ponte (poesia, Glaciar 2018). Concebeu o libreto para uma ópera em três actos Cantoriana Marítima, com três cantatas musicadas pelo maestro Vasco Pereira.
Está representada em várias antologias e revistas literárias.
Contribuiu para obras de Glória de Sant’Anna e Eduardo White com ilustração e trabalho gráfico. Colaborou com fotografia para o livro Maravilhar-se, Reaproximar a Criança da Natureza, de Rachel Carson (Sempre-em-Pé 2012).
Desde 2012 coordena o Prémio Literário Glória de Sant’Anna.
Em 2015, na 3ª edição do Prémio, promoveu a integração de todas as regiões onde este idioma tem expressão, como a Galiza, Macau, Goa, Malaca e outras do espaço lusófono.
É membro do conselho editorial da revista moçambicana de artes e letras "Kilimar" e da "Quiasmo" revista galego-lusófona ligada à Catalunha.
Concedeu entrevistas em Portugal, Brasil, Galiza e Itália.
Mantém o blog Contos de Fadas Não de Reis e a página Glória de Sant'Anna.WordPress.com
Corunha, 1959-2025
Licenciada em Geografia e História, com especialização em Arqueologia, Pré-história e Antropologia Cultural, pela Faculdade de Geografia e História da Universidade de Santiago de Compostela. Doutora em História Antiga, com especialização em Arqueologia e Antropologia. Também desenvolveu o seu labor como escritora, investigadora e especialista em rituais celtas. O seu trabalho como estudiosa celta é inumerável e reconhecido internacionalmente. Publicou artigos em periódicos espanhóis e internacionais.
A professora Fernández-Albalat foi uma das mais importantes celtólogas da Galiza de hoje. A sua tese de licenciatura foi feita em 1983 na Universidade de Santiago de Compostela e levava o título de: "El culto a las divinidades de las Aguas en la Gallaecia Antigua" quando começava as suas investigações do mundo religioso e a sociedade celto-galaica e da área lusitana da época pré-romana.
O Título de Doutora em História foi-lhe outorgado pela tese: "Los dioses de la guerra y su relación con las comunidades en el área galaico-lusitana” depositada igualmente na Faculdade de Geografia e História da USC em abril de 1989, onde foi avaliada recebendo a máxima qualificação de Apto cum laude por unanimidade. Em 2005 e 2006 validou o seu doutoramento em Pré-história e História da Antiguidade para exercer profissionalmente em Portugal pela Universidade do Minho, em Braga, e também obteve a equiparação do grau de Doutora na especialidade de Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Ministrou aulas como professora de cursos de formação e seminários; foi organizadora de congressos, cursos de formação, coordenadora de projetos de investigação, liderou a direção de investigações, obteve colaborações com entidades científicas, etc.
Também foi Vice-Presidenta da Fundação Associação de Estudos Celtas de Galiza desde a sua constituição; além de Fundadora e Presidenta da Associação de Investigações Celtas de Galiza e faz parte do IGEC (Instituto Galego de Estudos Celtas) como diretora do Departamento de Cultura Céltica Contemporânea.
Foi igualmente Professora Universitária da USC e Professora da Universidade de Vigo.
No âmbito científico tem realizado trabalhos de investigação como os seguintes:
Publicou os livros:
Trabalhou igualmente em obras coletivas como:
Participou em vários congressos onde apresentou os seguintes trabalhos:
Participou em Simpósios como ponente:
Participou igualmente em conferências com os temas seguintes:
Bandeira (Galiza), 1964
FOTÓGRAFO
Nasci em 1964 na Bandeira, vila da qual me considero eternamente vizinho, ainda que levo morando em Vigo desde o ano 1990.
Sou fotógrafo, por obra e graça da pintura e profissional porque de algo há que comer.
Em paralelo à minha faceta profissional, desenvolvi a minha visão fotográfica mais pessoal em diversas exposições.
Para além da fotografia sempre senti inquedança pela situação galega, quer na parte política, quer na questão linguística. Neste plano participei em diversas atividades.
Desde 2012 colaboro na parte gráfica com o Blogue Desperta do teu Sono (DTS).
Nascimento: 2 de Março de 1959, em Santa Cruz da Graciosa, Açores.
Percurso Profissional:
Setembro de 2024: Aposentada dos Serviços de Tráfego Aéreo da NAV Portugal;
2001-2005: Professora eventual de Português e Inglês na Escola Secundária de Machico, Madeira (acumulando com as funções na NAV Portugal);
1995-1997: Tutora (convidada) de Português para estrangeiros, na Universidade dos Açores;
1997-1999: Professora eventual de Inglês do Ensino Recorrente/Adultos, na Escola Secundária Domingos Rebelo, Ponta Delgada, Açores (acumulando com as funções na NAV Portugal);
1988 -1997: Supervisora Operacional do Serviço de Comunicações Aeronáuticas no Centro de Controlo Oceânico de Santa Maria
1981-2024: Técnica de Comunicações e Informação Aeronáutica dos Serviços de Controlo de Tráfego Aéreo da NAV Portugal;
1979-1981: Professora Provisória de Português e Inglês na Escola do 2º e 3º ciclos de Vila do Porto, Santa Maria, Açores.
Percurso Académico:
1981-1982: Curso Ab Initio de Serviços de Tráfego Aéreo, Centro de Formação da ANA-epe, Lisboa;
1982-1983: Especialização em Comunicações Aeronáuticas Rádio, Terra/Ar, Centro de Formação da ANA-epe, Lisboa;
1991-1995: Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, Variante de Estudos Portugueses e Ingleses, pela Universidade dos Açores;
1996-1997: Pós-Graduação em Cultura e Literatura Portuguesas, pela Universidade dos Açores;
2007-2008: Pós-Graduação em Língua e Literatura Portuguesas, pela Universidade dos Açores.
Outras atividades:
Membro do Grupo de Teatro Experimental de Santa Maria, Açores, e autora de alguns dos textos encenados;
Membro fundador do CAV (Centro de Artes Visuais) de Santa Maria, tendo participado de diversas exposições coletivas;
Jornalista e editora do jornal O Baluarte de Santa Maria;
Membro da equipa de Pulsar, suplemento literário do jornal Açoriano Oriental (Ponta Delgada);
Cronista dos jornais Correio dos Açores, Diário dos Açores e Açoriano Oriental (Ponta Delgada);
Colaboradora da Revista NEO, revista transcontinental, coordenada por John Starkey e editada pelo Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores;
Revisora de texto de autores açorianos;
Letrista de músicos açorianos e nacionais, entre os quais Mário Mariante e José Medeiros;
Promotora e membro do grupo responsável pelas “Noites de Poesia”, na Travessa dos Artistas, em Ponta Delgada;
Membro da AICL (Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia);
Coordenadora e Co-editora, com a Calendário de Letras, de Cheiros da Noite, de Maria Luísa Lobão;
Presentemente, colaboradora de # 9 Bairros, revista e plataforma digital da candidatura de Ponta Delgada – Açores a Capital Europeia da Cultura 2027.
Publicações:
Chamas na noite, Imprassor;
Nós, palavras, em co-autoria com Eduardo Bettencourt Pinto, Emanuel Jorge Botelho, Jorge Arrimar, J. Tavares de Melo, Luís Xares e Sidónio Bettencourt, Gráfica Açores;
Antologia no feminino: 9 ilhas, 9 escritoras, Calendário de Letras;
“O traço insular em Cecília Meireles” – 24º Colóquio da Lusofonia, Graciosa;
“Influência das migrações na literatura e no léxico açorianos” – 25º Colóquio da Lusofonia, Montalegre;
“O Livreiro de Santiago: Carlos George do Nascimento, de pastor no Corvo, a editor de Pablo Neruda” – 26º Colóquio da Lusofonia, S. Miguel;
“Alguns aspetos da ironia na construção de Santo Amaro Sobre o Mar, de Urbano Bettencourt”, 27º Colóquio da Lusofonia;
“Fala de Inês Pereira a Neto de Moura”, Página UMAR-Açores/Diário dos Açores;
“Demonizadas à nascença – 16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, Página UMAR-Açores/Diário dos Açores;
“Uma longa história: representações da mulher na Literatura”, Página da UMAR-Açores/Diário dos Açores;u
“Nada podeis contra o amor – no Dia Mundial Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia”, Página da UMAR-Açores/Diário dos Açores;
“Mayday, Mayday, Mayday ” – Revista Navegar;
Trabalhos de revisão registados na Biblioteca Nacional de Portugal:
De outra cor, de Susana Teles Margarido, il. Marília Ascenso e Fedra Santos, rev. Brites Araújo, Direção Regional da Igualdade de Oportunidades, Nova Gráfica;
Diário do meu segredo, de Susana Teles Margarido, il. Abigail Ascenso, ver. Brites Araújo, Direção Regional da Igualdade de Oportunidades, Nova Gráfica;
Sou diferente, sou fantástico, de Susana Teles Margarido, il. Marília Ascenso, Fedra Santos, rev. Brites Araújo, Direção Regional da Igualdade de Oportunidades, Nova Gráfica;
Quando for grande… quero ser pai, de Susana Teles Margarido, il.Joana Dias, rev. Brites Araújo, Direção Regional da Igualdade de Oportunidades, Nova Gráfica;
Os sonhos de Inês, de Susana Teles Margarido, il. Luís Roque, Ana do Rego Oliveira, Rui Costa, rev. Brites Araújo, Nova Gráfica.
Trabalhos de coordenação e co-edição:
Cheiros da Noite, de Maria Luísa Lobão, Calendário de Letras
Trabalhos de tradução:
The Lost Boy, de Susna Teles Margarido, il. Fedra Santos, tradução Brites Araújo, ed. Junta de Freguesia de Rabo de Peixe
Ativismo no âmbito da “Questão do Galego”:
Apresentação do livro Se os carvalhos falassem, de Concha Roussia, em Ponta Delgada, Lisboa, Ceia, Porto e Braga;
Celebração do Dia das Letras Galegas na Galeria Arco8, em Ponta Delgada, nos anos de 2017 e 2018;
Encontros com professores e alunos das escolas Secundária Antero de Quental, Ginetes, Maia e Sta. Cruz da Graciosa, onde se apresentou e debateu o lugar do Galego na Lusofonia;
Participação em eventos/encontros promovidos pela poeta Concha Roussia e/ou indivíduos e coletividades ligados às letras e ao ativismo galego.
Ourense, 15 de janeiro de 1966.
Trabalha como professora de Ensino primário na cidade de Ourense.
Tem participado em diferentes organizações de âmbito linguístico e sociocultural, desde a Casa da Xuventude de Ourense, nos anos oitenta; a Asociación Cultural Auriense, nos noventa; a A. C. “A Gente da Barreira” de Ourense; o MDL (Movimento Defesa da Língua), do qual foi secretária de organização.
Membro fundador da Coordenadora Galega de Roteiros (1998-2008); secretária da Assembleia da Língua (2002); presidenta da Associação Cultural “A Esmorga” de Ourense; membro fundador da A.C. Pró-AGLP (Pró Academia Galega da Língua Portuguesa) no ano 2007 e presidenta da mesma entre 2011 e 2014.
Irene Veiga é escritora de obras de narrativa, poesia e teatro. Publicou vários poemas numa colêctanea de poesia feminista "Mulheres entre poesia e luta". É umas das autoras da colectânea “Agora que conto”.
Em 2017 ganhou o prémio O FACHO de teatro infantil com a obra “Teatro para brincar no Natal”.
É roteirista da obra de banda desenhada (HQ) “Ricardo Carvalho Calero, Coraçom de Terra”.
A sua última obra é o relato “Oceanoe: travessia polo mar das Antelas”, incluído no projeto multimédia do mesmo nome.
Gosta de poesia, de escrevê-la também, de beber um bom vinho com as amigas nas tabernas e da tranquilidade duma praia vazia numa tarde de verão.
Ourense, 1982
Nasceu em 23 de agosto de 1982. É licenciada em Filologia Galega e em Filologia Portuguesa pola USC. Tem um mestrado em Serviços Culturais também pela USC. Em 2005 começa a dar aulas de português para academias, sindicatos, associações e na Universidade de Vigo-Câmpus de Ourense. Também fez traduções e foi docente dos Ops (O português Simples).
Em 2016 começa a dar aulas de português nas EOIs da Galiza. Desde 2022 é professora de língua galega e portuguesa no ensino secundário.
Em 1999 esteve envolvida em vários grupos de teatro universitário como a Aula universitária de Teatro de Ourense, Eis Teatro da faculdade de Filologia da USC e o grupo de Teatro da Universidade Nova de Lisboa.
Em 2002 começou no ativismo linguístico e cultural com diferentes responsabilidades no MDL (Movimento Defesa da Língua), na Associação Cultural “A Esmorga” de Ourense, na Pró- AGLP e na AGAL.
Tem organizado eventos culturais como o “Português Perto, aquelas nossas músicas” (que contou com dez edições), na Universidade de Vigo-Campus de Ourense; ou o Festival “Estou Lá”, dentro dos Colóquios da Lusofonia, realizados em Ourense em outubro de 2012.
Em 2011 constrói e abre com um sócio a taberna cultural “A Corte dos Bois” em Santa Ana (Sandiás – A Límia), chegando a ser um local de referência cultural.
Em agosto de 2014 inaugura um novo local cultural em Vilar de Santos (A Límia) “A Arca da Noe”. Em onze anos de trajetória e com mais 1100 concertos organizados, esta iniciativa foi galardoada com três Prêmios Martin Codax da Música à Melhor Sala de Concertos.
De 2020 a 2023 dirige o projeto "Oceanoe. Travessia polo Mar das Antelas", conto-cd com mais de 50 pessoas envolvidas nele, com uma edição de 2000 exemplares.
Laracha, (Galiza) 1965
Nascida a 21 ou 22 de julho de 1965, na aldeia de Golmar, Laracha, na chamada Casa Pinhám, uma taberna e padaria, casa de comidas e fonda, sendo a sexta mulher consecutiva que nasce na casa construída polos meus avôs no fim da guerra civil. Nunca nascem homens nesta casa, afirmou meu avô, assim que a partir de agora a parir a outro lado. Logo foi meu primo Suso, quem mora hoje nessa casa e leva a padaria tantos anos depois, que nasceu na casa dos outros avôs, aonde foi parir a minha tia Marisa por mandado paterno.
Tão-pouco está clara a data do meu nascimento; quando pergunto por ela nas reuniões familiares está garantida a controvérsia. O que sim é claro é que foi ao outro dia da Santa Margarida de Montemaior, uma importante romaria da zona.
Fui para Ordes com um ano de idade, para a casa nova feita polos meus pais, perto da dos meus avôs. Agora já sou da casa de Golão, uma família labrega da parte rural de Ordes, em que os negócios de compra-venda de gado foram iniciados pola minha bisavó Manuela Golão, quem ainda hoje dá nome a toda a família, maiormente bezerreiros de Ordes que compram o gado por toda a comarca.
Em Ordes estudei no atual colégio Castelão, inaugurado por um grupo de rapazes e raparigas provenientes das escolas rurais das aldeias e, como no meu caso, da escola unitária da vila. Ali vivi uma escola segregada por sexos e cheia de discriminações por ser da aldeia, por ser pobre, por ser nena, por falar galego e tenho que dizer que as minhas notas que ainda conservo eram acordes com a minha condição social: baixas, mesmo muito baixas.
Lembro os verãos com a minha tia-avó Aurora, americana triunfante, na alameda de Ordes, escutando os seus relatos portenhos, imaginando as Américas longínquas; e com a minha avó Francisca em Guitiriz tomando as águas. Já de moça os encontros familiares em Bergantinhos, as verbenas e as festas da Nossa Senhora de Lurdes em Ordes, que é a nossa padroeira arrebatada polo franquismo que sofrera a destruição da sua capela medieval, cousa que afastou da Igreja de por vida ao meu avó da casa do Picho, xastres todos na ordenense rua do Recreio.
Acabados os estudos de EGB, como estudante medíocre, decidi estudar numa academia de cabeleiraria na Corunha, aproveitando o Castromil que passava várias vezes por dia pola minha vila. Mas aconteceu que alguém tomou a decisão de incorporar os estudos de secundário em Ordes e oferecer a oportunidade de estudar BUP perto da casa, mais barato que andar indo e vindo à Corunha. Assim foi que avisaram os filhos para se inscreverem para estudar no antigo cárcere da vila, escola agora, e contrataram alguns estudantes universitários e licenciados do lugar para ministrarem as aulas das matérias de que se sentissem capazes. Isso sim, os testes finais anuais seriam realizados polo Instituto Gelmires de Compostela. E aí comecei os meus estudos numas salas de aula que antes eram celas numa cadeia para presos que conservaram as antigas baratas e demais insetos que moravam no prédio. Nesse espaço tive as primeiras aulas de galego com aquele
manual de Dom Ricardo azul e branco, que foi o mais prezado livro de texto da minha vida.
E foi aí quando comecei a ter boas qualificações e a pensar que podia prolongar os meus estudos, porque eram tribunais externos quem nos examinavam, já que em Ordes nessa altura filhos de pobres nunca tiravam sobresaliente.
Logo nasce o atual liceu e lá vamos para o pensamento livre e a liberdade como povo. Professorado novo com ideais galeguistas, dom Ramom Varela Punhal, professor de filosofia, autor de “Galiza, um povo, uma língua”, lusista. Consigo a subscrição ao “A Nosa Terra” e começamos muitos a debater sobre o país e a língua. Lembro os debates imensos nas páginas do semanário que continuavam nos corredores do liceu e que procuravam os argumentos mais engenhosos para ganhar a batalha dialética. Lembro a revista escolar “Os Foucelhas”, retirada polo centro escolar ou a reclamação da liberdade de expressão com protestos e greves estudantis. Aí foi a minha estreia no debate, no protesto organizado, leituras dos nossos clássicos, recitados de poesia rebelde, boicote ao espanholismo… e o propósito de estudar Filologia Galego-Portuguesa em Compostela.
Quando cheguei a Compostela, centrei a minha vida nos estudos, mas sempre me acompanhei dos estudantes reintegracionistas ali e nas minhas estadias em Ordes. Foi assim como no último ano do meu curso vi como nascia a ARO, a “Associação Reintegracionista de Ordes”, a iniciativa de um grupo de estudantes de secundário acompanhados polo seu professor reintegracionista Júlio Diéguez. Somei-me a este projeto e fui a sua presidenta durante vários anos em que surgiram publicações como a Revista da ARO em galego internacional, na norma da AGAL, ou até uma revista mensal, “O Mês”, a qual era vendida nos quiosques da vila com muito sucesso com temas de preocupação local, entrevistas, colaborações de fora... chegando a uma média de duzentos exemplares vendidos de cada número, além de números especiais dedicados a questões sociais ou a
autores a quem se lhe dedicavam os dias das Letras Galegas. Lembro que tínhamos ciclos de conferências, consideradas por nós como aulas de formação muito importantes, nuns anos em que as publicações eram em papel escritos com a máquina de escrever e depois, já com os primeiros computadores que conseguimos ter. Foram anos muito ilusionantes, apesar da pressão que a Guarda Civil fazia para que não pusessem publicidade para ajudar-nos a financiar as revistas. A moral era alta, e também tínhamos tempo para organizar atos lúdico-culturais de muitos tipos. Quiçá dos que lembramos com mais carinho são as representações poético-musicais que fazia o grupo poético Ronseltz, com quem chegamos a ter uma boa amizade. Eram muitos os encontros que tínhamos na altura com as diversas associações reintegracionistas de base da Galiza, onde intercambiávamos experiências, publicações e outros elementos em distintos convívios. Se alguém quisesse conhecer mais este aspecto do primeiro reintegracionismo de base, de como funcionavam estes pioneiros do ativismo reintegracionista podem ler o artigo sobre este tema que tenho publicado nas ATAS do II
Congresso Internacional da AGAL.
O meu primeiro destino como docente foi o Instituto Carvalho Calero de Ferrol, no bairro de Carança, um centro educativo novinho do trinque, com o melhor nome possível, embora fosse com duplo ele, e com um alunado e umas famílias maravilhosas, muitos deles ligados à associação cultural “Artábria”, que nasceu das reuniões que tínhamos na nossa casa em Fene. A nossa ilusão era criar o máximo número de projetos de divulgação da única maneira de normalizar a nossa língua verdadeiramente.
No Carvalho Calero, lembro que figemos aquela viagem a Bruxelas de que fala tanto o académico José Manuel Barbosa. A presença do eurodeputado José Posada serviu para usar o galego nas instituições europeias por primeira vez, e que hoje em dia já ninguém questiona. Apesar das reclamações interessadas politicamente por fazer também o galego crioulo da administração galega língua de uso na UE.
Como professora de galego no Carvalho Calero fui denunciada por ser reintegracionista e recomendar o Scórpio, por escrever o nome correto de Dom Ricardo como ele mesmo teria querido nas programações e documentos escolares oficiais, por auspiciar publicações escolares livres, por defender nessas revistas a insubmissão à “mili” espanhola e mesmo por apologia do terrorismo. O mais incrível é que tudo se iniciou com a denúncia entre outras de uma concelheira do BNG em Ferrol. As visitas semanais da inspeção educativa eram insofríveis, chegando a abrir-me um expediente. Mas finalmente a repressão foi remitindo, nomeadamente graças ao sindicalista da CIG Manolo Paço, quem me ajudou-me muito no processo. Contudo o que foi definitivo foi o apoio fulcral das famílias, que se reuniram na escola e figeram queixa do tratamento que eu estava a receber.
Nesses anos funda-se o BNG de Ordes, e formamos parte desse núcleo fundador com a condição de admitir a liberdade normativa. Acabou a ARO e começou a etapa BNG, com a inocente ideia de conseguir respeito para o reintegracionismo. Alguns documentos em norma AGAL foram apresentados, estávamos presentes, mas nunca avançamos além da documentação interna. As dificuldades e boicote discreto da organização foram tais que afinal nunca logramos as nossas pretensões de continuar com o uso de um galego correto nos boletins locais ou na propaganda eleitoral. De facto a grande maioria dos membros da ARO que se filiaram acabaram dando-se de baixa por diversos motivos, sendo o ortográfico o mais relevante.
No entanto produze-se o meu translado para o IES Maruxa Malho de Ordes, centro onde levo vinte e quatro anos a trabalhar com uma vaga de galego. Nestes anos fiz o Mestrado de Género da Universidade de Vigo e estudei português na Escola de Línguas de Compostela até que a Lei Valentim Paz Andrade nos permitiu incorporar o ensino do português como segunda língua na escola há nove anos. Começamos com uma turma de cinco alunos e hoje completamos turmas de vinte e tal estudantes em todos os níveis. Mesmo houve anos em que tive horário completo.
Igualmente logrei a cátedra de galego na última convocatória há alguns anos. Também fui vicepresidenta da AGAL na altura em que Bernardo Penabade foi o seu presidente, pois me apresentei na candidatura que ele encabeçava. Nos anos de docente neste liceu escrevi e publiquei junto a um outro docente, Xesus Sambade, um manual de história da literatura galega do século XX publicado na editorial A Nosa Terra. Por motivos óbvios era impossível publicar este manual num galego correto, mas aproveitei a oportunidade para tentar estabelecer uma linha em favor dos autores reintegracionistas, dando um maior protagonismo aos autores mais relevantes em português galego, e que mesmo estão banidos noutros manuais, como pode ser o caso de Ernesto Guerra da Cal.
Levo participando nestes três últimos anos num novo projeto chamado “Saúde e Terra”, uma associação cívico- política que nasceu com o convencimento de que deve haver liberdade normativa e é declaradamente binormativista em todas as suas intervenções escritas, na página web e em todos os documentos internos e externos. A associação leva com muito orgulho a sua declaração binormativista e aspira a ser intermediadora para avançar para a liberdade normativa, acabar com a discriminação padecida polo reintegracionismo e emprega as duas normas em cartazes, redes sociais, convites, etc, sem nenhuma exceção. Acho que este caminho vai dar fruto, por isso estou na diretiva como tesoureira, e julgo que há futuro para este projeto.
A proposta que me dá a Academia é em si uma honra para mim, independentemente do que se decida, e pola qual sinto-me profundamente grata.
Saúde e Terra!
Em Ordes a 11 de julho de 2025
Corunha, 1969.
Estudou Filologia Hispânica e iniciou-se na Teoria da literatura. É membro da Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega e da Associaçom Galega da Língua.
Tem participado desde 90 em inúmeros recitais de poesia e colaborado em revistas portuguesas, entre elas Anto, Saudade, A Ideia, Eufeme e DiVersos.
Como crítico tem colaborado em publicações periódicas impressas como A Nosa Terra, @narquista (revista dos ateneus libertários galegos), Protexta (suplemento literário de Tempos Novos), Dorna e Grial.
De 2008 a 2014 codirigiu a plataforma de blogues em galego Blogaliza.
Desde 2006 é assíduo dos meios eletrónicos, em que se dedica à divulgação da literatura e do pensamento crítico. É colaborador mais ou menos habitual nos jornais Praza Pública, Sermos Galiza e Galicia Confidencial.
A inícios de 2014 fundou a revista digital de artes e letras Palavra comum, dirigida ao âmbito lusófono, que conta com contributos de mais de 200 autor@s de vários continentes.
Foi membro do Grupo Surrealista Galego.
Desde outubro de 2015 é coordenador do Certame Manuel Murguía de Narracións Breves de Arteijo, bem como de vários clubes de leitura municipais e ateliês de escritura.
O seu blogue pessoal foi O levantador de minas entre 2006 e 2023.
É colaborador habitual da Academia Galega da Língua Portuguesa.
PRÉMIOS
2011 ~ Prémio ao Melhor Blog Literário da Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega.
2010 ~ Prémio “Rosalía de Castro” de lingua e cultura da Deputación da Coruña, por Blogaliza.org (partilhado com Pedro Silva e Táti Mancebo).
2008 ~ Menção de Honra no Prémio Nacional de Poesia Xosemaría Pérez Parallé (polo livro Metal central)
1994 ~ Prémio Nacional de poesia O Facho.
OBRA INDIVIDUAL
OBRA COLETIVA (excerto)
AGLP. 22/07/2025
Texto: J. Rodrigues Gomes; Coordenação Linguística: A. Cortiças Leira; Produção: Xico Paradelo.
Ramom Reimunde, membro numerário e um dos fundadores e pioneiros da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), publicou e começou a difundir neste verão uma versão, em português da Galiza, d’O Bispo Santo. É este um original produto literário, assinado por Álvaro Labrada, pseudónimo sob o qual se acolhem Álvaro Cunqueiro e Ramom Otero Pedrayo, duas figuras centrais da narrativa galega do século XX.
Segundo se esclarece nesta recente edição, o texto d’O Bispo Santo foi assinado em maio de 1944 por Álvaro Cunqueiro, com o pseudónimo de Álvaro Labrada. Porém, “Cunqueiro incorporou ao texto original trechos d’A romaria de Xelmírez do também grande escritor Ramom Otero Pedrayo, traduzidos do original galego de 1933”. Esses trechos de Otero são transcritos nesta nova versão em negrito, assinala Reimunde. “Portanto, eis dois grandes autores em um só heterónimo“, conclui. Esta edição está ilustrada com um desenho da capa, além de um texto de contracapa, de Maria Reimunde. Consta de 114 páginas e é uma edição não venal. Relata as andanças de Gonçalo Árias, bispo de Mondonhedo como peregrino a Compostela, a Roma e a Jerusalém. Afirma-se dele que, numa estada no Ermo (Ortigueira) teve “mil sonhos e visões”. E venceu o demónio mais de cem vezes. Satanás tinha o rosto fino e frio de Peláez, o bispo de Compostela”; ou como, ao regressar de Terra Santa, “quis visitar a sua diocese, do Sor ao Eu, desde Cervo até Meira. Não se fartava de ver a terra, de cavalgar os seus caminhos. Quiçá os seus diocesanos o achavam um bocadinho estranho. Não contavam que o toparam predicando aos corvos nas penhas que hoje chamam Sermão dos Corvos?”
O Bispo Santo trata-se de uma “maravilhosa hagiografia inventada de São Gonçalo, o Santo popular por antonomásia da nossa paróquia natal de São Martinho de Mondonhedo, –de onde a cidade bispal de Vila Maior toma o seu nome–, que celebra a sua festa a finais da Primavera no lugar que chamam O Santo, em uma ermida perto do alto d’A Grela, e ainda outra festa popular teatralizada sobre o falido desembarco normando na praia de Tupide da Ribeira, no porto de Foz, no Verão. As páginas deste livro sobre tão singular Batalha Naval são talvez as mais formosas escritas nunca sobre o mar de Foz”, afirma Ramom Reimunde.
No “Prólogo” d’O Bispo Santo salienta-se por parte de Cunqueiro [Álvaro Labrada] como no livro “conta-se a vida de um bispo dos séculos de ferro”. De um bispo galego que, depois de peregrinar pelos caminhos do mundo e vencer normandos, tendo visto a Deus, morreu tal e como está dito em Juízes, XIII, 22: ‘Os que viram a Deus morrerão’. Conta-se a vida de Gonçalo, dando-lhe o seu lugar à história e à lenda. Não, não é esta uma biografia romanceada; em todo o caso, é o romance de Gonçalo Árias, santo e herói. Deus nos ajudou com ele, aos galegos quando, aterrados, gritávamos o A furore normanorum, libera nos, Domine. As naves normandas ainda hoje afundem diante de São Gonçalo numa vidraça da catedral mindoniense, em um mar vermelho, de um vermelho do “Dies irae”.
“Linguagem limpa que brota como fonte”
Ramom Reimunde Norenha nasceu num 18 de abril de 1949 na paróquia de São Martinho de Mondonhedo, no Concelho de Foz. Na sua formação destacam os estudos na Escola Superior de Engenharia Naval de Madrid, e de Nâutica na Crunha. Atingiu o título de Capitão da Marinha Mercante. Com essa profissão, exerceu em barcos espanhóis e estrangeiros. Posteriormente, completou estudos na Universidade de Santiago de Compostela, tendo-se licenciado em Filologia Hispânica em 1979 e em Galego-Portuguesa em 1982. Tendo trabalhado como docente e investigador no ensino público, em liceus de Viveiro, Lugo e Foz, atingiu a condição de catedrático em 1992. Ramom Reimunde também salienta pela sua atividade de empresário florestal, dirigindo, desde 1989, a empresa Reimunde SAT, que é a editora deste volume O Bispo Santo, de Álvaro Labrada. Resultado dessa experiência empresarial é também O Segredo do Monte, uma história florestal do mato na Galiza.
Ramom Reimunde foi um dos pioneiros da Associaçom Galega da Língua e do Movimento Reintegracionista da Galiza, que procura a restauração da ortografia, morfologia e gramática da língua da Galiza segundo a sua história e a tradição defendida por Castelao e o Galeguismo. Entre a sua produção merecem salientar-se publicações como Cativério de Fingoi. Os anos lugueses (1950-1965) de D. Ricardo Carvalho Calero (2010), um dos estudos da sua especialização em Carvalho Calero. Também Poesia Completa de Leiras Pulpeiro (1983); uma edição de Trebom, de Armando Cotarelo (1984); Bem pode Mondonhedo desde agora (prémio de ensaio Á. Fole em 1998, sobre Leiras). Também escreveu sobre Costumes antigos de Galiza, fez a tradução da banda desenhada de Mafalda (1985), e uma crónica romancística sobre o mar e a pesca do bonito que intitulou A Costeira (2006). Neste último trabalho, resgatou um livro inédito do professor Marcos Loureiro, em que não se sabia se contava uma história, um sonho, um jogo de futebol, uma lenda, um diálogo, uma canção ou um verso “porque era cambiante e sempre inventado, de tema fantástico ou científico”, segundo refere Reimunde. Também tem colaborado na imprensa galega, em especial nos jornais El Progreso e La Voz de Galicia, recolhendo parte da sua produção neste âmbito no volume Com textículos (2010).
A leitura d‘O Bispo Santo, segundo assinala Maria Reimunde “mergulha-nos numa Galiza medieval, mítica e marinheira, numa prosa que respira pedra e erva molhada, traduzido ao galego português com precisão e alma por meu pai Ramom Reimunde, com uma linguagem limpa que brota como fonte”.
Inez Andrade Paes, Humberta Brites Dias Jerónimo Araújo, Maria Rosário Fernandes Velho, Blanca García Fernández-Albalat, Alfredo Ferreiro Salgueiro, José Gorís Cuinha, Noemi Vazquez Nogueiras e Irene Veiga Durán foram eleitos em reunião celebrada na Casa da Língua Comum, em Santiago de Compostela
AGLP 14/07/2025
Inez Andrade Paes, Humberta Brites Dias Jerónimo Araújo, Maria Rosário Fernandes Velho, Blanca García Fernández-Albalat, Alfredo Ferreiro Salgueiro, José Gorís Cuinha, Noemi Vazquez Nogueiras e Irene Veiga Durán foram eleitos como académicas e académicos correspondentes da Academia Galega da Língua Portuguesa. Assim foi decido na reunião plenária celebrada na Casa da Língua Comum, em Santiago de Compostela, no passado sábado dia 12 de julho. A AGLP enriquece-se assim com a incorporação de oito especialistas, em língua galega e portuguesa, em literatura galega, na defesa linguística, na dinamização social e cultural e nas artes da imagem, bem como em outras disciplinas.
As eleitas foram:
A Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) recebe com enorme pesar e tristeza a comunicação da morte de José Luís Fontenla Rodrigues, Membro de Honra da nossa entidade e uma figura referencial do Movimento Lusófono da Galiza.
AGLP 30/06/2025
Nascido o 9 de fevereiro de 1944, em Ponte Vedra, ele tinha 81 anos e o seu enterro realizou-se às 11:45 horas de hoje, 30 de junho, no cemitério de Santo Amaro da sua cidade natal. O óbito aconteceu em Oleiros, onde ele morava.
José Luís Fontenla Rodrigues era filho de Maria Rosa Rodrigues e José Luís Fontenla Mendes, que fora membro das Mocidades Galeguistas, do Partido Galeguista, do Seminário de Estudos Galegos, de Labor Galega de Ponte Vedra e da editora SEPT.
Fontenla Rodrigues notabilizou-se como ativista político e cultural, advogado, escritor, poeta, jornalista, tendo utilizado diversos pseudónimos como João Padrão, Luís Röiz, António Eirinha e outros.
Entre as suas múltiplas produções, merece especial destaque o ter sido representante das delegações galegas que participaram nas negociações dos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa celebradas no Rio de Janeiro (em maio de 1986, acompanhando com Adela Figueroa Panisse a Isaac Alonso Estraviz -quem tinha a delegação de Ernesto Guerra da Cal-) e Lisboa (em outubro de 1990, juntamente com António Gil Hernández).
No âmbito da atividade profissional e cívica durante a ditadura franquista destaca em 1970 a sua implicação a favor da abolição da pena de morte, pela amnistia e os direitos humanos, a título pessoal e em iniciativas coletivas por meio da Ordem dos Advogados.
No terreno político cofundou o Conselho de Forças Políticas Galegas, em reunião realizada no seu escritório de advogado de Ponte Vedra em janeiro de 1976, mantendo relação direta e epistolar com as mais relevantes figuras políticas do âmbito espanhol. Fundou o Partido Galego Social-Democrata, sendo candidato ao Senado espanhol pelo Partido Socialista Galego em 1982. Foi representante da Galiza na Plataforma de Convergência Democrática durante a ditadura franquista, na clandestinidade. Colaborou com o Euskal Sozialista Bitxarrea - Partido Socialista Vasco e o grupo socialista “ex-Reagrupament” de Josep Pallach para criar uma Federação de Partidos Socialistas com o PSOE (H) histórico. Elaborou um projeto de Constituição para a Galiza fazer parte de um possível Estado Confederal Espanhol.
Como advogado, fez as gestões em Madrid para a legalização da Asamblea Nacional-Popular Galega (AN-PG) em março de 1978, antecedente do atual Bloque Nacionalista Galego (BNG).
José Luís Fontenla considerava-se membro da Geração da Lusofonia “que defende a Lingua Portuguesa em toda a parte e como língua nacional e oficial de Galiza, Portugal, Brasil, PALOP, Timor, etc.” e defendeu e trabalhou para conseguir “uma política forte e decidida em prol da segunda língua românica do mundo, umas das mais formosas línguas do planeta, extensa e útil (Castelao) e opulenta e subtil (Pessoa) que falam 240 milhões de pessoas nos cinco continentes, segundo a UNESCO”, segundo ele escrevia em 2005. Também se tem considerado em alguma oportunidade Fontenla Rodrigues como continuador das ideias linguísticas e a conceção do patriotismo da Geração Nós.
José Luís Fontenla Rodrigues foi fundador da Associação Cultural O Galo, em Santiago de Compostela; presidente da Associação de Amigos da Cultura de Ponte Vedra; da Associação para a Defesa Ecológica da Galiza (Adega) e de Amnistia Internacional na Galiza. Foi também membro do Conselho de Redação do Boletim do Ilustre Colégio de Advogados de Ponte Vedra; relator no I Congresso do Direito Galego e Prémio de Ensaio nos Jogos Galaico-Minhotos de Guimarães. Também do Conselho Asessor da revista O Ensino. Entre outros muitos reconhecimentos, o dia 2 de setembro de 2018 recebeu em Chantada o prémio da Fundação Meendinho.
José Luís Fontenla cedeu a sua biblioteca e mais a biblioteca do seu pai para a Academia Galega da Língua Portuguesa, e está disponível na Casa da Língua Comum, em Santiago de Compostela. Ele colaborou no Boletim número 10 da AGLP com o artigo “A Lusofonia e os Acordos Ortográficos”. Muitos outros trabalhos seus estão publicados em Nós, revista Galaicoportuguesa de Cultura, Cadernos do Povo e outras publicações das Irmandades da Fala de Galiza e Portugal, de que ele foi presidente.
Também publicou os livros Poemas de Paris e outros poemas; Itaca, tragédia num ato único europeu (teatro); Sememas; Poemas Lusófonos; Poemas para Cynara; Sem Título; Fragmentos sem nome ou Metamorfoses.
A Academia Galega da Língua Portuguesa envia as suas maiores condolências à família e amizades.
Mais informações:
Ele defendia que “do ponto de vista linguístico, o galego nunca se separou do português”. Assim o indicou em 2008 quando, como representante da Academia Brasileira de Letras, participou em Compostela no lançamento da Academia Galega da Língua Portuguesa
AGLP. 25/05/205
A Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) recebeu com enorme pesar e tristeza a comunicação da morte no Rio de Janeiro de Evanildo Bechara, aos 97 anos. Este eminente gramático e filólogo brasileiro é referente central e indiscutível no seu campo de estudo, com grande projeção internacional.
Evanildo Cavalcante Bechara, nascido em Recife em 26 de fevereiro de 1928, exerceu como Professor Titular e Emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), sendo mestre de várias gerações. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia, e membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Galega da Língua Portuguesa.
Foi também o representante brasileiro no Acordo Ortográfico que está a vigorar para a língua portuguesa. Ele defendia que “do ponto de vista linguístico, o Galego nunca se separou do português” e fazia e faz parte da língua comum. Assim o indicou em 2008 quando, como representante da Academia Brasileira de Letras, participou em Compostela no lançamento da Academia Galega da Língua Portuguesa.
Evanildo Bechara teve relação com a Galiza desde as décadas finais do século XX, e esteve em várias ocasiões em encontros com especialistas que defendiam a língua própria da Galiza como expressão da Língua Comum do Português. Entre essas atividades, Evanildo Bechara participou nas palestras que organizou o grupo promotor da Academia Galega da Língua Portuguesa na Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, junto do Professor Malaca Casteleiro da Academia das Ciências de Lisboa, em outubro do ano 2007.
Depois, de novo em Santiago de Compostela, representou a Academia Brasileira de Letras na Sessão Inaugural da AGLP, em 6 de outubro de 2008, como também no Seminário de Lexicologia realizado em 5 de outubro de 2009.
“Destarte, o professor apoia, desde a primeira hora, o nascimento da nossa instituição, trazendo o apoio da centenária academia brasileira à mais jovem entre as da língua portuguesa”, segundo se salientava no “Editorial” do número 3 do Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa (BAGLP), editado em 2010 e dedicado na sua homenagem como grande intelectual, mas também homenagem à sua figura humana e como brasileiro universal.
Na sua intervenção pública o 6 de outubro de 2008 na cidade de Santiago de Compostela, no ato de lançamento da AGLP, Bechara afirmou:
“...do ponto de vista linguístico, o Galego é uma vertente desta realidade da língua histórica que se chama língua comum, que é o grande guarda-chuva ideal, modalizado pela cultura, que abriga todas as variedades linguísticas de todos os quadrantes geográficos em que essa realidade maior que se chama língua portuguesa é falada e escrita. De modo que do ponto de vista linguístico, o galego nunca se separou do português como uma entidade que pertence a essa realidade histórica que caracteriza uma língua de civilização e de cultura como é o português”.
Esta intervenção sua está recolhida também no número 2 do BAGLP. Naquela altura, Evanildo Bechara referiu-se à AGLP como uma porta aberta para a integração na Língua Comum, segundo recolheu a comunicação social.
Da sua ampla produção científica merece destaque a Moderna Gramática Portuguesa, cuja primeira edição data de 1961, com 37 edições até finais do século XX e que continuou a ser publicada no XXI com novas edições por ele revistas e ampliadas.
Também são da sua autoria outros títulos como Gramática Escolar da Língua Portuguesa (2001), Lições de Português pela Análise Sintática (2004), Gramática Fácil, Minidicionário da Língua Portuguesa, O que muda com o novo Acordo Ortográfico ou A Nova Ortografia.
AGLP. 05.05.2025. Texto: J. Rodrigues Gomes; Coordenação Linguística: Antia Cortiças Leira; Produção: Xico Paradelo.
A Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) quer agradecer a Saúde e Terra, que se apresenta como “a associação das pessoas que querem melhorar Galiza”, a sua proposta de que se dialogue com a nossa instituição para mudar a situação da língua autóctone da Galiza e conseguir uma situação mais favorável para a mesma. Assim o faz numa das suas últimas declarações públicas, difundida em abril, onde insiste na necessidade de diálogo do conjunto do galeguismo cultural e linguístico do país, com um apelo especial ao respeito para a Real Academia Galega, com ensejo do relevo na sua Presidência.
“Entendemos que esse diálogo deveria acabar nuns acordos que vaiam no caminho de alargar as liberdades linguísticas e normativas para a sociedade galega, com o fim de lograrmos uma sociedade mais democrática e inclusiva num tema tão sensível a nível pessoal e identitário como é o da língua galega”, afirmam. Põem em destaque a “terrível crise que está a sofrer a nossa língua nacional a nível de uso e prestígio na sociedade galega”, como assim o evidenciam estudos oficiais que promoveram as Administrações Estatal e Autonómica da Galiza. Saúde e Terra assinala que só a união faz a força, e advoga por cumplicidades e apoios mútuos. “Que não se estrague mais uma vez a oportunidade de encontrarmo-nos num caminho comum na defesa do nosso tesouro mais prezado”, conclui.
A doutrina de Castelao
Num trabalho anterior (uma linha com que a AGLP também concorda plenamente), esta associação galega, com ensejo da declaração de 2025 como Ano Castelao por parte do Governo autonómico da Galiza, para honrar a memória do político, intelectual e artista Afonso Daniel Rodríguez Castelao, tinha manifestado (https://saudeeterra.gal/a-xunta-e-o-ano-dedicado-a-castelao/) que “Neste ano Castelao, desde Saúde e Terra também esperamos que não se oculte o Castelao que insistentemente, uma e outra vez, defendia a unidade linguística do galego e o português, desejando, segundo as suas próprias palavras, que se confundissem um com o outro [...] esperamos desde Saúde e Terra que se trabalhe noutra das grandes metas que Castelao queria para a Galiza, uma relação fluída e constante com o resto dos países da Lusofonia. Por isso esperamos que se intensifiquem muito mais as incipientes ligações do governo galego e da sociedade galega com o mundo lusófono tanto a nível cultural como economicamente, algo que mesmo pessoas integradas no nacionalismo galego ou no sistema cultural, nomeadamente o literário, parecem não ter muito claro”.
Saúde e Terra tem-se manifestado na sua página web oficial, a respeito de outros assuntos da atualidade linguística, cultural, económica, ambiental e política da Galiza, com perspetiva nacionalista.